domingo, 30 de outubro de 2011

Alguma coisa com os Beatles

Tô precisando escrever, sabia? Tô precisando pôr tudo isso que tá aqui dentro pra fora, tirar de cima de mim todo esse estresse e monóxido de carbono na cidade grande, que tiram minha capacidade de respirar bem e de ver o mundo mais colorido. Acho que não tem nem muito o que dizer, mas isso aqui já é uma baita de uma terapia, psicologia freudiana nunca funcionou muito comigo. Não que eu faça disso um diário, imagina 'querido diário, hoje eu comprei pão'. Definitivamente não. Comprar pão só muda a minha vida se eu encontrar o amor da minha vida, nem que ele seja o asfalto cinza se um carro me atropelar. E eu nem gosto muito de pão mesmo.

Ontem eu vi um musical dos Beatles. Péssima notícia: eu não sabia duas letras. Tô precisando rever meus conceitos de música, concluo. Mas, no geral, foi uma bela noite. A fase anda boa pra aqueles que não gostam de carnaval pelo excesso de felicidade. Semana passada me obrigaram a escrever sobre a felicidade e o único método que encontrei para fazer isso era falando da tristeza. Mas não há pelo que se descabelar. Eu posso até chorar e me trancar no quarto prometendo nunca mais sair. Ninguém vai morrer. Nem eu. 

Então eu resolvi ouvir Something pra ver se tirava ela da cabeça. Tola tentativa. Tenho olhos grandes e expressivos grudados aos meus que cismam em voltar ao meu pensamento quando esses acordes são tocados. Não reclamo, Beatles e boas lembranças estão sempre aí para nos fazerem felizes. Então olho pro meu quadro 3D - agora tudo é 3D - do Sgt Peppers e penso que a minha sorte é maior do que a daquelas pessoas de comédias românticas e sorrio um sorriso sereno.

É, acho que se um dia eu tivesse que fazer uma receita para a felicidade, ela seria juntar Beatles e uma boa companhia, seja ela quem for. 

sábado, 8 de outubro de 2011

Brincar de saudades

De todo amor que existe, de todo amor que sinto, que vejo, que olho, que permeio, nada é real. Olho para trás e vejo tempos diferentes. Eu acreditava ser feliz naquela época. Sentimentos mais sinceros, dores mais fortes, palavras mais doces. As palavras ainda transbordavam de mim naquela época - hoje mal me alimentam. Dois anos de idade a menos e duas doses de felicidade a mais.

Mas nada do que um dia me fez feliz pode ser verdadeiro. Convenhamos: tudo isso é altamente sujeito a modificações. Nosso cérebro tem o sujo poder de modificar nossa memória para que passemos a acreditar que tudo tenha acontecido do jeito que quisemos. Se o dia é bom, o passado era péssimo e tudo progrediu a passos largos. Se o dia for ruim, sai de perto, que o nosso pretérito - principalmente o imperfeito - era perfeito.

Brinco de sentir saudades. Na verdade, segredo: nada sinto. O saudosismo de tempos diferentes e com menos preocupações me agrada, mas o presente é um futuro passado e eu sentirei falta dele. Nunca achamos que exatamente aonde estamos, aonde vivemos e quando estamos seja bom. Nenhum desses momentos que achamos que sentimos falta são reais, e exatamente por isso sentimos tanta falta deles assim. c

Habitamos o planeta dos paradoxos e deveríamos ser chamados de 'ser insatisfeito'. Nosso nada é tão nosso tudo que se repete continuamente, marcando-nos com saudades, pessoas e momentos que tem sua mísera essência - muitas vezes erroneamente - captadas por nossos sentidos. Nossas vidas são construídas somente em nossas mentes, tudo mais é reflexo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Paráfrase ou paródia?

Vejo daqui de cima toda a plateia que me observa de suas respectivas janelas - algumas até do asfalto. Minha baixa altura nunca me permitiu ver o topo da cabeça dos outros, mas a vida me levou às alturas em pouco tempo. Sejamos sinceros: toda essa coisa de se equilibrar num parapeito é simplesmente uma metáfora dizendo como ser sincero pode te levar a loucura. E eu, mais do que nunca, posso afirmar sobre essa minha iminência no destino.

Observo olhares impressionados. As pessoas devem se esquecer que para se manter nesse abismo é preciso já muito equilíbrio, pois, do contrário, eu já estaria jazendo naquele asfalto duro. Aqui dentro há algumas e elas me chamam. Reluto e teimo em não ir - aqui fora me atrai mais. Eu sei que quando eles me chamam eles estão me amando. Quando querem me tirar do vento, do sereno e das chuvas de verão: eu sei que eles me amam nesses momentos. Querem me proteger, eu sei que querem o meu bem.

Quando eles tentam fazer com que eu sinta menos, me importe menos e vá colher flores com eles, eu sei que eles me amam e que eu tenho tudo pra ser como eles.

Mas acontece que sou triste.