sábado, 23 de abril de 2011

Amor: sonho

E os amores brandos, que sejam assim brandos, como tardes suaves e com brisas de domingos, aquelas que não temos nada para fazer que não seja dormir: ser brando. Mas o nosso amor não era mais isso, já era uma tempestade de lágrimas e amores e sentimentos, parecido com aqueles sábados turbulentos de aula, passeio e festa. Os olhos que lacrimejam em frente aos ouvidos que escutam imploram por uma salvação absoluta da confusão que chamamos de sentimento. A minha mente é apelidada de dúvida e quando vem traz a irmã gêmea e me leva em direção a ele ao mesmo tempo em que a outra me empurra para o outro lado. E o questionamento toma conta de todas minhas cordas vocais - por que eu fiz isso? Oras, porque fazemos coisas idiotas, sempre. E quanto mais humanos formos, mais isso faremos. Cansei de pertencer a essa minha espécie que talvez pior que o próprio humano seja. Meu humor vai do extremo da felicidade à sofreguidão extenuante em segundos. Como tentar ter controle de algo, se são forças cerebrais sobre - e não sob - meu controle que me controlam? E elas são forças chamadas sonho, sonho chamado imaginação, imaginação chamado irrealidade, irrealidade chamado lugar-onde-nunca-viverei, lugar-onde-nunca-viverei chamado impossível, e não, isso não é questão de ponto de vista. É questão de consciência.

-Você é tão nova e tão bonita, por que bebe tanto?
-Porque quando eu tô bêbada, eu não sonho.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Revolta do não-pensar

Um mundo que castra,
que trava, que manda.
Fui fazer medicina,
papai quem mandou.
Mas esse não é o problema,
nem da vida, nem da morte.
O problema é meu cérebro,
já dizia a titia.
Tenho 25 anos,
não de sonho, nem de sangue,
mas de alguém que nunca fui.
A vida que sigo, babá que ditou,
cuidava de mim, olhava pra mim, me fazia comer,
a televisão.
Papai trabalhava, mamãe trabalhava, mamãe reclamava,
na dupla jornada de quem pari,
e eu, pobre menino de interior de metrópole,
largado às vistas da raça superior.
Virei uma máquina contraditória na vida,
uma fordista de última tecnologia,
sou filho dos donos do mundo!

Sou toda a população.

Mas taco isso num barco,
não sou metonímia, sou metomim,
meto o dedo, meto o olho.
Olho de longe tudo,
cadê papai, cadê mamãe?
O dinheiro 'cabou,
vendi a tevê,
e agora o que vou fazer?
Paro e penso,
penso e paro.
Viro bcho, viro bicha,
viro quem eu sempre fui.
Não sou doutor, não sou ninguém,
 sou biólogo, sou poeta,
pro desgosto do papai.
Não sei do amor, nem da ciência,
não tenho nada a falar,
mamãe, não se vá.

E pra quem disso gostar,
não sou sábio, nem sou mestre,
mas um conselho vai bem a calhar.
Meu amigo, pense bem,
a solidão é minha amiga,
e disso você não vai gostar.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Intertextualidade reflexiva

Aqui onde vivemos, hoje é quarta-feira. Mas exatamente onde vivemos já é quase quinta-feira. Será? A turvalidade mental provocada por conceitos e veículos massantes e sem rodas ou asas nos faz acreditar no que ela quer. deveria haver salvação de algum alienado da alienação. Poetas, pois. Poesias, poemas, parágrafos, pensamentos para pensar, pleonasmos pedantes. Mas toda a literatura é um mar de intertextualidade. Mas quem é a literatura? Nós. Os personagens são livres e invisíveis pessoas que andam por aí juntando características de vários de nós, até que, epa, encontra um sensível para contar sua história. Assim é o amor, assim é a vida. Assim é a parte subjetiva e objetiva de cada um de nós - desde que consideremos objetivo como matéria. Nosso carbono é de Cleópatra e nossas ideias ainda são de Jesus, o rebelde - Jesus histórico, ateus; Jesus religioso, cristãos. Relatividade é tudo no mundo de agora. Somos bombardeados a todo momento com inúmeras opiniões, fatos e veredictos, o sim e o não, o pró e o contra. Sem contar todos os livros que já lemos, peças que assistimos, trechos que já ouvimos. E, se tudo isso foi escrito por alguém, carrega uma opinião e uma vida, ou seja, lemos textos altamente partidários para formar nossa mente e nosso ser. E toda essa volta e embasamento sei lá de que para simplesmente dizer: tudo que nós somos, já foi; tudo que escrevemos, já foi escrito; tudo que falamos, já foi dito. Teimamos em dizer que somos revolucionários, mas revolucionários de quê? Nada aqui é novo, o que sabemos de amor e de sociedade foi alguém que nos disse e nós nos identificamos. Então, quem somos, se tudo que pensamos ser nosso, na verdade, é de tantos numa linha até o infinito? Temos espelhos internos, somos espelhos de todas essas ideias e temos tantos ângulos de envergadura, tantos tamanhos e côncavos e convexos diferentes, que não há imagens iguais. Somos produtos do nosso reflexo. Somos imagens, meras imagens, somente imagens intertextuais. E, mesmo assim, somos encantadores.