sexta-feira, 15 de abril de 2011

Revolta do não-pensar

Um mundo que castra,
que trava, que manda.
Fui fazer medicina,
papai quem mandou.
Mas esse não é o problema,
nem da vida, nem da morte.
O problema é meu cérebro,
já dizia a titia.
Tenho 25 anos,
não de sonho, nem de sangue,
mas de alguém que nunca fui.
A vida que sigo, babá que ditou,
cuidava de mim, olhava pra mim, me fazia comer,
a televisão.
Papai trabalhava, mamãe trabalhava, mamãe reclamava,
na dupla jornada de quem pari,
e eu, pobre menino de interior de metrópole,
largado às vistas da raça superior.
Virei uma máquina contraditória na vida,
uma fordista de última tecnologia,
sou filho dos donos do mundo!

Sou toda a população.

Mas taco isso num barco,
não sou metonímia, sou metomim,
meto o dedo, meto o olho.
Olho de longe tudo,
cadê papai, cadê mamãe?
O dinheiro 'cabou,
vendi a tevê,
e agora o que vou fazer?
Paro e penso,
penso e paro.
Viro bcho, viro bicha,
viro quem eu sempre fui.
Não sou doutor, não sou ninguém,
 sou biólogo, sou poeta,
pro desgosto do papai.
Não sei do amor, nem da ciência,
não tenho nada a falar,
mamãe, não se vá.

E pra quem disso gostar,
não sou sábio, nem sou mestre,
mas um conselho vai bem a calhar.
Meu amigo, pense bem,
a solidão é minha amiga,
e disso você não vai gostar.

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