Os sentidos das palavras e do corpo mudam com o passar do verão - que tem ficado com preguiça de ir embora. Olho as horas e os segundos parecem não passar numa eternidade de palavras e o calor cada vez mais forte começa a ser substituído por amanheceres nublados de gaivotas e nuvens na reserva aqui perto. Descubro assim como quem discute, reflete e rebate sobre a o porquê e a origem da vida que meu cheiro preferido não existe - terra molhada e átomos quebrando não seriam tão obviamente iguais se o mundo fosse meu.
Cadê você nessas horas?
As férias de conhecimento, letras e curiosidades acabaram e o começo de uma frustração em forma de tempo tem me deixado abatida, juntamente com as pessoas. O ser humano é feio, pelo menos é mais feio do que a concepção que eu faço sobre cada um deles. E com o fim da encenação veranesca as pessoas tem ressurgido - e eu prefiro os personagens.
Não consigo ver você. És bonito ou ainda me decepcionará, como sempre fazem?
Sei que nessa visão me machuco com as pessoas sempre mais, mas vejo na maior parte do tempo a beleza de um dia, se não apaixonado, amoroso. E a ideologia é o óculo por onde vemos a vida: não adianta discutir, cada um tem a sua. Todos tem a sua, não há quem não veja o mundo de alguma forma, não há ser humano a-idealista. Mas ninguém é tão cego e rígido que não possa se movimentar ou pelo menos dilatar. Toda matéria concreta é um monte de vazio reunido. Ninguém tem resposta ou opinião para todos os casos e perguntas.
Venha logo. Essas pessoas me enojam e enjoam.
Sempre atitudes e atividades egoístas e egocêntricas de quem já passou do estágio de só olhar pro próprio umbigo e chega a ser má, enquanto apenas me pergunto o porquê disso. Mas o bem e o mal não existem e estão dentro de nós mesmos. A maldade se mistura na população para ficar escondida e poder agir. E eu vou me afastando. Sem pessoas, sem ninguém. A minha exclusão voluntária é resultado do grau absurdo das pessoas, enquanto elas pensam que a causa é a minha introspectividade: o fato em si não existe, existe a construção do fato. Mas o afastamento me permite limpar os óculos e enxergar tudo com mais clareza.
Vejo algo. Alguém.
E o ressoar do seus passos vão fazendo todos aqueles terremotos aéreos e vão balançando os meus dois tímpanos tão rápidos quanto as batidas do meu coração em desespero para ver você. O susto desse momento vale mais do que qualquer conselho ou descrição que poderiam me dar e eu não sei o que fazer com minhas pernas bambas. Observo e é alto. É branco. Não tem máscara, não tem fantasia, não tem nenhum teatro que não seja da vida - o inevitável. Não tem a beleza do comum, mas a beleza do perfume de si chegando vagarosamente às minhas narinas. Não tem mais chance. Não tem como fugir. Não tem distância.
Chegou.