segunda-feira, 11 de julho de 2011

Paranoia

Lá está ela mais uma vez. O olhar andava perdido, a noite parecia ter sido divertida, mas numa parada para respirar ela já não achava mais nada daquilo interessante. É bipolar, diziam na brincadeira, mas só ela sabia como era carregar o fardo de ter algo assim. Isso a irritava, assim como toda aquela alegria toda. As vozes que viviam dentro dela haviam migrado para fora e essas a droga não ajuda a calar.

O "4" já não a ajudava mais. Havia apelado à Renato, mas chorava sempre que o ouvia e achava que nem sempre o choro é a solução. Bobinha, qualquer forma de expurgar sentimentos vale nesse mundo onde ninguém tem a coragem de dar um sorriso na rua. Saía a rua e adentrava casas antes nunca imaginadas e se sentia estranhamente bem com aquilo. Misturava-se aos outros, confundia-se com as pessoas sem o medo são de perder suas verdades no meio de todas aquelas mentiras convincentes, mas de que importa? Cada um de nós é uma pequena parte de outro cada um e isso é o que chamamos de relações ou até mesmo amizade. O jeito era se jogar nessa nova realidade sem olhar para trás.

Ela olhava. Rezava incessantemente para que fizessem daquele mês de julho, dezembro. Chorava todas as vezes que pensava nisso. Se perguntava - perguntava a todos! - o que havia acontecido: nada lhe diziam. A vida muda muda e ninguém percebe, menina. Isso tudo aqui em que você vive é um diálogo incessante entre o destino, a vida e a morte e você não tem direito de ouví-lo. Você vai perder as pessoas daquele dia. Tudo aquilo que antes - ou que talvez ainda hoje - parecia importante para você se resumirá a um grão de areia. Você virará um composto de átomos mais sem importância do que já é hoje. Nada terá valor. Mas os instantes, ah os instantes, menina, esses permanecerão cravados nos miasmas da cidade. São eles que curarão sua tuberculose, quando esse pulmão estiver cansado de respirar toda essa melancolia.

Acredito que essa moça gostava disso. A tristeza que a consumia era o combustível para suas idas ao psicólogo e para os seus passeios sozinha. Embora o doutor nada a ajudasse, era um ouvido a mais - e quem sabe o único. Triste pensar que só quem te ouve é aquele que é pago para isso. Contudo, junto com as consultas vinham de brindes idas ao café ou à sorveteria - esse tempo é imprevisível - para falar de amor. Estava tentando parar de fumar, mas não resistia a uma cena bem montada. Gostava de andar cá por cima e sentar para escrever, enquanto aproveitava seu cigarro: era uma de suas terapias. Curtia até uma boa companhia, mas nenhuma daquelas vozes exageradas. Gostava da paz que o silêncio e o fumo a proporcionavam. Nada demais, só paranoia.