quinta-feira, 8 de setembro de 2011

2 + 2 = 3

Eram dois. O coração se encontrava dividido e despedaçado entre dois caminhos diferentes. Nunca haviam lhe contado que a realidade era pior que o platonismo. Antes, vivia no sonho, no olhar, no querer - no sonhar. O mundo das ideias sempre lhe era mais próximo.

Contudo, num dado momento, o acaso veio a surpreender. De uma forma inusitada, um forte olhar na dança, um par de olhos castanhos vieram a seu encontro. Acaso, muito acaso mesmo daquela aleatoridade que reagia-lhe a vida. Os olhos expressivos gritavam além do que a boca permitia dizer. De primeira, fortes; mas depois tornaram-se amigáveis. Os cabelos longos e castanhos - embora ainda ache eu um diferente tom de loiro - demonstravam o oposto daquilo que posteriormente chegaria a conhecer. Tudo aquilo era novidade: pessoa, idade, cheiro. Perdia-me, sem perceber, de minha rota. Que rota? Não sei. Mas o novo era atrativo, chamava, divertia, quase que implorando minha participação.

Comecei rindo de minha própria sorte. Mal ou bem, mantinha perto de mim o novo e o velho; a brincadeira e..bem, a brincadeira. Não mantinha nada sério ou ao menos queria algo sério. Estou escutando um homem falar sobre amar avião e ter medo de voar, e assim me sinto eu: quero o amor e o carinho, mas sem relacionamento. Dava certo. Dava emoção, adrenalina, frio na barriga. Se queria certeza e carinho, corria pro velho apartamento já conhecido; se queria mais carinho e um entendimento quase perfeito, o cheiro me guiava até o bairro arborizado. Egocêntrico, eu sei. Babaca, eu sei. Escroto, medroso, errado. Eu sei, mas não sou de ferro, queria carinho, sou gente. Era bom. Tempos em que a fantasia e a realidade se misturavam, mas sonhos não duram muito - principalmente aqueles que vivenciamos.

Prometemos não nos envolver, aquilo era um jogo. Uma vida de adulto vivenciada por duas crianças que, tolas, não sabiam o terreno que pisavam. Ouvíamos alertas, mas quem disse que dávamos atenção? Nada. Tempo, conversas, mensagens, dinheiro, dinheiro, dinheiro e um pai reclamando da conta de telefone. Havia alguns surtos - sempre há quando tratamos dessas duas pessoas -, mas juntas os sorrisos venciam. Pelo menos o meu. Contava nos dedos pobres e úteis das mãos as vezes em que houve algum encontro sem preocupação. O resto era no perigo, proibido e escondido. Escondido de nós mesmas, só se for. O mundo via aquilo que não vimos. Os seres humanos, quer dizer, corrigindo, as mulheres humanas tem um perfeito dom de se apegar àquilo que lhes faz bem. A aproximação era inevitável e tinha gostinho de travessura. Era uma travessura, mas de gente grande. Só que travessura em algum momento machuca e magoa o outro.

Eram três. Eu, cá de minha confortável e egoísta posição, pensava que eram apenas dois e esquecia que todos nós juntos formávamos três. Havia uma conversa, uma situação até estranha, porém tolerável. Mas aí veio o ciúmes, discreto e devagar como duas simples letras numa conversa - hm. E cresceu, junto com ele, o envolvimento. De quem? Todos. Mas três não é par e num universo de pessoas carentes, a junção nunca poderia dar certo. Surpreendo-me com todas as minhas reações nesse novo universo. Surpreendo-me por algo, dessa vez real e tangível, ter desviado minha atenção. Pergunto-me agora como pensamos que daria certo. Pergunto-me como achamos que não nos envolveríamos. Perguntam-me como aguentamos tudo isso. A resposta é simples: era tudo brincadeira. Somos todos crianças e de uma hora pra outra, no compasso de um sentimento, tivemos que crescer.

Aqui dentro deu um nó. Aqui dentro tem um nó. Eu sou covarde. E, assim como não consigo terminar esse texto, não consigo terminar essa história.

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