segunda-feira, 15 de março de 2010

Perdeu, achou

Será que é preciso que algo aconteça pra que alguém em algum canto do mundo perceba o valor de uma coisa qualquer? Essa coisa pode ser um bicho de pelúcia, uma carta, uma árvore, uma pessoa, um sentimento. Qualquer dessas coisas, se assim podemos chamá-las, se igualam no mundo da perda. Seria um erro dizer realmente que é tudo estritamente igual, mas o que importam as diferenças? Se perdeu, está perdido,e se não é material, então desiste, a perda foi enorme.

Quando se perde algo, fica sempre um pensamento de ‘como eu fiz isso? Como eu fui capaz de fazer isso? Como sou estúpido(a)!’, fica um sentimento nostálgico, uma coisa meio back in time, stop in time. Deseja-se voltar o tempo, parar o mundo e ter tudo de novo. Mas depois de um tempo simplesmente esquece-se. Esquece-se uma flor, um ipod, um carro, as bonecas de infância. É o poder do tempo. Mas não se esquece alguém, não se esquece um sentimento. Não por completo, não se o sentimento tenha sido sincero e/ou intenso.

Mesmo que você esteja completando bodas de ouro com seu marido, você lembrará com ternura do seu primeiro namorado com quem você teve a sua primeira vez. O sentimento sobrevive. Pode ser um carinho, uma lágrima, uma saudade, ou até um sentimento de raiva, aversão. Nesses casos fica claro que não foi um bom fim. Ficou algo não dito, umas palavras no ar, uma relação não bem discutida, um término não bem determinado. Significa que sobrou em um, geralmente em você, o sentimento forte, enquanto o outro já tinha esquecido, ou fingia ter. Significa em outro caso que as brigas superaram os bons momentos, que não era mais possível rir um do outro. E então o término foi em conflito. Não houve alguma coisa meio ultima estrofe de ‘No one’s better sake’, não teve sentimento reconciliador.

É o pior dos fins. É quando você presta mais atenção e pensa o quão preciosa era essa pessoa em sua vida, é quando precisa-se acabar com algo pra saber o valor dele na sua vida. Mas então já era. Ou não. Ou é o caso de ver como, embora haja dor, isso tenha sido melhor, um fim de vez, um adeus. E, nesse caso, ele descobrirá isso e será tarde demais, para ele.

Há também a perda que faz bem. Você perde num momento em que não se dá conta, num momento em que você não tem capacidade pra lembrar disso no futuro. E num momento você reencontra, sem saber que tinha perdido. E você fica com aquele sentimento ‘como é possível eu sentir isso e não conhecer?’, uma dúvida cruel. E então, de repente, a cunhada da sua empregada lhe conta que você o conhece há mais de 10 anos. Mas que surpresa! E então você entende que você não conheceu, você reencontrou, e então tudo faz sentido.

Os reencontros são as melhores partes da vida. Nesse caso, ‘seria um acaso, e não sorte’. Não há destino que se encarregue disso, vocês simplesmente estão aí, juntos, felizes e contentes. Sendo amigos ou sendo amantes. A perda e o reencontro, a melhor e a pior combinação da vida. É aí sim que você aprende a dar valor a coisa perdida e quando a tem de volta segura-a com todas as forças. É uma chance que você tem de ter o que você tinha de volta. E, cuidado, pode ser só uma na vida.

Um comentário:

Mariana Gama disse...

Eu devia receber por nossas conversas! Hahahaha parabéns pela mudança no texto! Você entendeu o que eu quis dizer =)