Hoje resolvi resolver. De uma vez por todas. A calma com que o futuro se arrastava engolia o presente e me fazia infeliz. Essa lentidão desperta em mim uma fome de velocidade, tempo voando e vento no cabelo que eu não posso ter. Não posso, mas quero. O tempo é meu, o presente é meu, o futuro é meu. Como poderei ter minhas coisas se não tenho nem o meu próprio tempo para mim mesma? Sei, sou jovem, ainda tenho tempo. Mas não quero o agora, ele me machuca. Quero o depois; quero estar junto; quero estar junto depois; quero, depois, estar junto. Mas depois de que? Não sei.
Parece que estava seguindo a mim mesma a dois, mas de repente um avião caiu sobre nossas cabeças e eu voltei para casa sozinha, zonza. Zonza por ter três toneladas em mim, zonza por ter me deixado cair, zonza por ter me perdido dele. E perdida dele, estou perdida de mim. O ônibus que faz insistentemente todos os dias seu percurso, hoje se perdeu, mudou o caminho. E junto com ele, eu.
Onde estava eu com a cabeça quando resolvi pensar em viver o agora? Se o meu passado é lindo e meu futuro me agrada, essa lentidão do presente me fere. O presente é pesado. É um presente de amigo urso, um presente de Tróia, um cavalo de pau. A surpresa não é boa, não tem graça, não gosto de palhaços. Que graça há em se perder, em viver nesse tempo arrastado, em estar atordoado? E fingir, mesmo triste, que nada aconteceu, forçando um sorriso? Não, não há, não quero isso pra mim.
Hoje resolvi resolver. Resolvi resolver que dentro de mim há uma pessoa não com sede de futuro ou saudades do passado, há uma pessoa perdida. Uma pessoa que só se acha nele, essa foi minha decisão. Mas como posso ter conseguido decidir isso e ter me afastado? O presente demora e não me agrada mas o futuro está aí. E o futuro é nosso. Enquanto isso, vai passando, que depois eu me acho nele de novo, quando estiver livre das garras do presente arrastado e arrastador. Mas e o amor? O amor cresce.
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