terça-feira, 13 de abril de 2010

Ponta do abismo

Durante muito tempo eu tentei lutar contra. Talvez tua presença em meu mundo fizesse de ti algo tão comum a ponto de eu achar que um amor não pode ser encontrado assim, olhando pro lado. Ignorava as sensações que tinha perto de ti - talvez mais fortes do que as que hoje sinto. Sentia um tremor e uma paz que as pessoas facilmente catalogariam de amor, mas guardava só pra mim, por medo (ou vergonha?). Você me chamou tantas vezes para conhecer-te, tocar-te, amar-te, e eu, tola, recusei.

Até hoje acho incrível o modo que aguentaste tanto tempo a minha espera! Acredito que, no fundo, sabias o que eu realmente sentia, porque, admito, muitas vezes demonstrei isso. E você tantas vezes a falar comigo, insistir, pedir gritando no silêncio de seus olhos. Acredito que se você fosse mandar uma carta a mim naquela época ela seria algo como:


"Minha cara,

sabes que te amo (e sabes que sou direto). Que procuro sempre sua companhia, um toque, um olhar carinhoso, mas, por favor, não penses que sou um ursinho de pelúcia. Sempre quis conhecer-te melhor ou passar mais tempo com você de uma forma que eu sentisse que estivesse sendo recompensado pelo que estava lhe dando - mas isso nunca aconteceu. Infelizmente, ao seu lado, me sinto um substituidor. Assim como no filme "Tudo acontece em Elizabethtown": substituidor por só ser importante quando outros não estão ou, pior ainda, substituível por você me substituir facilmente. Pena que penses assim. Gastei tanto tempo cultivando esse amor por achar que éramos tão iguais, tão próximos e tão possíveis que esqueci que você não sou eu. E sendo você parte de mim, mesmo sem saber (agora já sabendo), foi/é/está sendo muito mais difícil te deixar de lado. Todo aquele tempo que desperdicei não faz mais tanto sentido para mim, mas acho que você ainda pode sair dessa dura carapaça e vir pra mim. Somos amigos, estamos juntos - comemos juntos, viajamos juntos, saímos juntos - o que mudaria tanto na sua vida? Digo que nada mais me prende nesse Rio de Janeiro e nesse Brasil a não ser você. E agora dou meu passo final em direção ao precipício: esta carta. Posso receber um sim, me tacar do penhasco em sua direção e ter a vida toda para aproveitar. Mas posso também receber um não, recuar um passo, mudar de vida. Mas mesmo assim terei a vida toda, só que desta vez sem você.

                                                                                                                                                   De quem te ama"


Talvez você esteja se perguntando porquê ainda falo disso. Talvez já tenha recuado o seu passo e tido a coragem de mudar sua vida - para melhor. Talvez já tenha até morrido e eu escreva isso em vão, para um você errado. E o pior: talvez ainda se pergunte porquê eu disse não, se até hoje penso nisso. A questão é que hoje eu realmente me pergunto como eu fui tão cega a ponto de negar teu pedido - não era nada de mais, era questão de conhecimento.

 Hoje, meu caro, quem mandaria essa carta acima seria eu. Mas não posso mais arriscar: estou no fim. Se me disseres um sim, me arrependerei de não ter falado isso antes. Se me disseres um não, absorverei esse peso e carregarei até depois do fim.

E então guardo esse papel no bolso como algo que nunca existiu, pensando que alguém depois receberá esta calça e o achará. Torcendo para que esse alguém seja você. Nem que seja um você errado.

3 comentários:

Rafaella disse...

adorei esse =)

Mariana Gama disse...

2!

Camila disse...

"Gastei tanto tempo cultivando esse amor por achar que éramos tão iguais, tão próximos e tão possíveis que esqueci que você não sou eu"

Será que todo mundo comente esse mesmo erro?


"Torcendo para que esse alguém seja você. Nem que seja um você errado."

Achei muito bom esse texto, de verdade!