Eu realmente lutei contra muito tempo. Mas isso já faz mais de ano. Hoje, me entrego, me deleito e me derreto. Antes, realmente não tinha a ideia de como tu, tão presente ao meu lado e tão como eu - se podes assim entender -, seria hoje o que é para mim. Como fui tola!
Não posso negar que durante muito tempo fizeste-me feliz. Era algo excêntrico, sim, mas isso dava aquele sabor meio acre meio doce que sempre gostamos. Aquelas minhas - e tuas - fugas de casa; nossos cúmplices, coitados; nossos beijos fugazes e escondidos, mas ao mesmo tempo tão na cara de todos. Por que sempre escondemos? Você sempre foi a primeira a dizer que amor não tem classificação e ao mesmo tempo a primeira a fugir. Você e sua mania de se contradizer.
Tanto se contradizia que me trocara por tantas outras - e por que não outros? - mesmo dizendo que me amava. Cômico, não acha? Eu não. Prometi tantas vezes a mim mesma não tocar mais nesse assunto para não sofrer mais, mesmo sabendo que não tocar nesse assunto era uma forma de omitir o que fizeste e de me acostumar a todo esse peso que você pôs em minha cabeça. Mas, calma. Deixe-me me organizar um pouco para que isto aqui não se torne simplesmente um papel com ideias desorganizadas e vomitadas. Antes de fingir esse costume a tuas fugas, eu fui contra. Bati o pé, fugi de você, te larguei. E voltei. (acho que agora está claro que depois desse "E voltei." que, a partir disso, passei fingir costume)
Mas, sabes, quem tanto finge algo, se torna ele.
Mas hoje vejo que não temos mais jeito. Eu, ela, ele, o senhor da esquina - todos! Ao mesmo tempo que ainda me derreto contigo, vejo que não podemos mais seguir juntas. Acho incrível como fomos, e somos, capazes de de ir e vir 6 vezes em, deixe-me fazer as contas, 40 dias? Meu santo Deus do céu, como tive paciência!
Agora, lendo isso, sua cabeça deve estar incrustada de pontos de interrogação. Em primeiro lugar, o porquê. Está difícil de enxergar que essa é uma carta de adeus, uma carta de fim, uma carta de quem não aguenta mais ser um bichinho de pelúcia que vai e volta de cima do travesseiro - o lugar mais importante da cama? Desculpe, desculpe. Sabes muito bem que muitas vezes perco a cabeça e sou hostil, não era o meu objetivo, não nesse momento. Lembra-se ainda do meu porquê em gostar mais dos europeus, em especial os ingleses? Aquele comportamento superior, sem muito contato físico, aquele cinismo de quem não está a fazer nada enquanto acaba com o mundo, sempre foi meu comportamento preferido.
Estou perdida. Não, não na vida, nessa carta mesmo! Na vida acabei de me achar. Bom, agora o motivo de ser agora. Sei bem que anteontem resolvemos nos afastar, houve todo aquele drama de sempre. E, bem, ontem mesmo resolvemos voltar porque, bom, o porquê nunca muda. A questão é que agora, depois dessa 7ª vez, eu to realmente dizendo adeus. Acho que estou fragilizada demais para que eu me submeta a isso mais 7 vezes. Imagine 14!!
E tem ainda o terceiro porquê. É que eu mudei. Eu assumi um compromisso e tenho que cumpri-lo. E não é comigo mesma, porque sempre me traio. Assumi um compromisso com alguém que mais parece minha consciência. E agora virei alguém de palavra.
Ah, deve estar se perguntando porque não disse isso ao telefone ou ao vivo. Bom, o que você esperava de alguém tão covarde que foi e voltou e se submeteu a tantas humilhações assim?
Com um antigo - e em breve esquecido - amor.
3 comentários:
acho que esse é um dos que eu mais gostei. quando voce disse 'cheidiodio', nao imaginei que fosse ainda assim ser tão sutil, singelo =) adorei esse!
sutíl não! intenso com certeza..
Gosto da forma como você consegue discutir as angústias dos relacionamentos humanos. Sutil ou intenso? Não sei, mas com certeza para poucos. Obs.: Adorei a comparação com os ingleses.
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