sábado, 18 de setembro de 2010

Doença do mundo

Uma cervejinha, um gole de café, uma baforada de cigarro. Todo vício é aquele que vai matando aos poucos, deliciando-se. A inveja, o mal-olhado, a avareza, pecados viciantes que matam de uma vez. Sem prazer.

A gula, o álcool, o fumo - tudo que é bom estraga os dentes. A maconha é proibida, o sexo é pecado, a ganância é sucesso. Na transa, os corpos suados, os dentes trincados, é o corpo a corpo. De lado, de frente, molhado, aos berros. Nas transações, os olhos esguios, a cara lavada, a doença da consciência. O pecado está nos olhos dos cegos.

Homossexualidade ainda é doença, não pode ser amor. O aborto não pode, a não-morte do ser ainda não vivo é a morte dos pais novos ainda vivos. O homicídio é aceito, desde que com bom preceito, a morte de quem é, para quem foi. O dom do vida para quem ainda pode realizar é cortado. Cortado com mais uma vida ou sem a própria - a não realização do ser.

São inventados novos poemas para antigos problemas. E antigos poemas usados para novos problemas. Não tão novos assim, reescrito perante a não renovação do ser. E não há vicio mais penetrante que pegar um cigarro e dar uma tragada no nascer do sol.

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