quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Vida (e texto) arrastada

Acho que você nunca viu no meu sorriso quando leio algum texto meu para você, imaginando como seria um a gente que já quase chegamos a ser. Nem nunca reparou também no meu nervosismo perto de você, minha falta de palavras, por mais que eu seja transparente em segredos contigo. Em todos, menos esse. Nunca deve ter prestado atenção que todos os meus cigarros fumados até o filtro são gastos pela falta de você, tragados porque não tenho você para me ocupar e tirar meu nervosismo. Do álcool até gosto e sempre gostei, mas, se você reparar bem, bebo bem mais quando há chances de você aparecer, porque assim seria mais fácil eu me livrar da maquiagem da sociedade e me tacar em você, ou melhor, pra você.

Vou jogar meus livros fora e não me peça eles para ti, não quero que vejas o quanto penso em ti. Esses livros são tão você, frases suas, caras suas, vozes suas. Sempre os leio imaginando sua vozinha ao fundo, aquela que sempre reclamo. Marco neles quando vejo você, ou seja, eles são quase todos grifados. Mas, se for por isso, vou jogar o meu ipod no lixo também. Ele, meu dvd, minha tv. Vou me isolar do mundo, virar uma hermitã e não ter contato com mais nada, nem com esquinas. Muito menos com esquinas, onde muito te vejo. Mas não sei se tudo isso vale a pena por causa de menos de um metro e meio de altura.

Não entendo porque você faz isso comigo. Me provoca com palavras e fica impassível na expressão, fala num tom normal e faz uma cara que só você sabe fazer. E vive ainda dizendo que quer fugir. Fugir de que? De mim? Isso você já fez e escolheu o seu porto-seguro-capacho. Se segurou nele, na sua dita felicidade, mas no fundo quer fugir e, bêbada, diz que gosta de mim. Você é uma vírgula perdida, um parênteses na minha vida que ainda não conseguimos fechar, alguma coisa desajustada que eu carrego.

Aliás, essa vida me surpreende a cada instante, assim como você. Quando criança, nunca poderia imaginar que eu iria tanto assim contra o mundo, que o meu ideal de felicidade seria o oposto do convencional, como hoje é. Eu brincava de casinha e escritório, sabe. Eu achava que eu ia crescer e ser adulta e mulher, como eu via todas elas sendo. Não que eu estaria aqui e agora implorando o amor de uma mulher. Minha ideia hoje de familia e vida mudou completamente, e você tem sua parcela de culpa. Só não pense que eu não gosto dessa minha condição.

Você entende o que é ter essa culpa pesada na minha vida? Você acha que é só diversão. Eu sou sua saída pra quando o tédio ou pra quando aquele ressentimento e aquela tristeza guardados fazem você se isolar do mundo e ficar triste sem motivo, mesmo tendo seu porto seguro, amor, e felicidade com você. E você pisa em mim, principalmente quando mandam você pisar. Você foge de mim quando lhe pedem. Você é capaz de brigar comigo quando coagida. E eu só sigo as instruções de seu jogo. Isso é tão covarde. E faz com que eu arraste tudo, inclusive isso aqui que lhe escrevo.

Mas você me inspira. Gosto de olhar esses seus olhos verdes, essa sua boca pequena, essa sua carinha de encantada com o mundo, e deixar que todo o meu sentimendo baile em forma de palavras. Quando há palavras. Geralmente só há os seus olhos e o meu sorriso nervoso. Geralmente eu digo que preciso de você e que penso em homícidio - e não suicídio - quando tiram você de mim, mas na verdade eu nem ligo, não muito. Que te quero, não há dúvidas, há a carne. Mas, foi o que disse, você me inspira. E eu gosto de quem me inspira! A nossa situação é de carne e poesia, menina. O que fode é a poesia..

Um comentário:

Ana Beatriz disse...

Olhos verdes formam um caminho para a perdição. E como Milton Nascimento já disse "E trazem todo o engano, das procelas do mar..."

Aqueles Olhos Verdes
Milton Nascimento