quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Carta pra você: vem

Venho por meio dessa, daquela e de mais uma outra pedir por um par de olhos pequeninos que já quase não se vê, mas que quero ter. Procuro por todos os cantos palavras daquelas das aulas de alemão e, que surpresa, não as acho: só em inglês. Sei que deixei ir bem antes do avião passear e do reveillon passar, mas quem nunca se perdeu tentando se achar e deixou um passarinho voar? O problema é quando o passarinho foge e não sabe se volta, se se acha, se se perde, se esquece o passaporte ou se pula de bungee jump porque acha que desaprendeu a voar - tudo que mais faz. Mas então acaba sempre voltando com olhinhos baixos e pedido de abraços - com braço, sem braço, seja lá como for - pra ser o centro das atenções com seus tenis e casacos de bolinhas, de listrinhas, de passarinhos. Acaba sempre no mesmo pôr do sol e na mesma poça d'água gigante que tem no quintal, pensando sempre nas mesmas tatuagens e palavras em alemão, andando sempre no mesmo skate da mesma kombi. Só que não adianta pedir adiantado, pedir como brinde, pedir como lembrança ou até mesmo como presente embrulhado num laço e mandado por sedex 10: é cheio de vontades e só vem quando quer.

Volta, meu bem, volta. Vem voando mais rapido que o avião, mais veloz que a burocracia. Volta que do lado de cá desse mundo tem muita praia pra você também, mas com menos tubarão. Volta que aqui tem um monte de gente de cabelo curtinho esperando por quem tem também. Volta porque aqui tem muita salada e dias perfeitos pra você. Volta pro seu carnaval, passarinho, abra suas asas aqui. Vem.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Você: de novo

E no meio de tanto caos dessa cidade, eu continuo em conflito comigo mesma. Tenho em mim um sentimento de paz que me diz a coisa exata que eu quero quando viro a cabeça pra direita; mas basta virar a cabeça para esquerda e trocar meia dúzia de palavras para essa certeza sumir. Lembro de desenhos animados de infância e me pergunto se com essa idade que tenho ainda posso ser uma princesa de contos de fadas que não decidiu se é a mocinha ou a vilã.
Queria ser as duas, desde que eu fosse a protagonista. A vida podia acontecer exatamente como num filme onde cada movimento é cronometrado pra que aconteça uma coisa boa na vida da personagem. Isso incluiria você. Você que faz a minha cabeça rodar e viajar e não ter a decência de decidir que lado quer. Você que me faz ficar como uma pré adolescente apaixonadinha e nervosa com o que vou dizer e com o que você disse, mesmo que não suas palavras nao sejam nada demais, mesmo que você não aja de acordo com isso que acabou de dizer. Na minha mente você é assim e isso pra mim basta. A minha mente é o meu filme. Eu só não consigo ser duas diferentes.

Por que nada nos satisfaz? As cortinas do meu quarto continuam fechadas para que a claridade não possa entrar e eu não veja que vida explêndida há lá fora. Você está lá fora. É para que eu não veja você, para que eu não corra até você. Falando assim, vão pensar que perco-me de amores por você. Tolo engano. Perco-me de amores pela liberdade que transmites a mim, pelas palavras e brincadeiras que dizes e falas, pela ideia de, contigo, não fazer o de sempre.

Eu amo o de sempre. Mas você sempre volta. O som solto de suas palavras abraça meus ouvidos e olhos e eu não consigo desviar o pensamento desses óculos pelos quais enxergas a liberdade mais que eu. Você me seduz com isso. Você tratou minha dor com isso. E me acariciou, alentou, você quase me roubou e me tirou dessa cidade, você conquistou minha admiração e desejo, sem saber que estava fazendo isso. Hoje, tenho certeza que sabes.

Com você, sou a vilã num mundo de festa, carnaval e sol. Sou vilã no Rio de Janeiro de verdade. Com o de sempre, sou a mocinha que quer construir uma vida, morar no inverno e que ama o que tem, embora, no fundo, sempre tenha querido ser a vilã. Aqui e agora, ouço as duas ou mais vozes que tem em minha cabeça e tento decidir qual é a mais correta. Hoje mesmo sentei no sofá e contei tudo isso em 20 minutos no telefone. Hoje, eu fiquei mais aliviada, mas não mais decidida.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Quem fala é o doutor

Passei um tempo longe do papel. Caí no mundo e em muitas armadilhas, me perdi inconscientemente pra mais inconscientemente ainda me achar. Eu mandava as pessoas não aloprarem tanto, mas vivia cada dia com um alucinógeno diferente. Fui pra cá pertinho achando que tinha atravessado e só por isso que tinha em mim novos ideais, ideias. Me dá um tapa na cara. A volta para o lugar onde se estava é aconchegante. Eu me via entre duas realidades diferentes, mas que todas tinham eu como ponto em comum. Pra que mudança? Eu temia que todos os neologimos já tivessem sido usados, todas as onomatopeias gritadas, todas as ideias expostas. Eu podia jurar que tudo que eu dizia e pensava já existia, cada letrinha. Meu Deus, eu já fui inventada. Achava que o sentimento da vida estava perdido sem poder escrever minhas palavras. Mas a pretensão de ter uma porção de letras juntas e só minhas já foi longe: se as palavras não forem minhas, que se tornem minhas me satisfazendo.

Eu achava que não havia sentimentos sem palavras. Mas há vida longe delas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

E como curar a liberdade?

E quando eu pude, enfim, ter o mundo todo para mim, você olhou e eu estava com a cara triste, e então você perguntou com aquela sua cara de assustado e esgotado, como se eu tivesse sugado todas as suas forças e, por mim, você não pudesse fazer mais nada: você ainda quer alguma coisa?! Sim, você.

Hoje eu acordei meio revoltada por ter acordado. O telefone tocou 7 vezes, faltou luz e eu acordei no calor. O caminhar no silêncio até a cozinha me deu uma paz ao constatar que não tinha ninguém em casa e o ainda gelado vento da geladeira em minha direção me animou um pouquinho. O relógio me contava que já eram 14h. Mas o céu completamente limpo foi me deixando triste por não ter um segundo de sossego do sol, o ar quente me deixou triste por não dar nem um soprinho refrescante nas minhas costas ainda nuas de uma madrugada de calor, eu me deixei triste por ter ido embora de você e agora não ter colo, mesmo estando calor e eu detestando andar de mãos dadas nessa temperatura.

Quis beber alguma coisa. Não tinha cerveja, vai água mesmo. Deu vontade de falar mil palavrões a mais do que eu já falo por dia, de ler poesia, de declarar alguém para ninguém. Nunca liguei muito pra rimas e métricas, mas quando comecei a escrever sempre rabiscava uns versinhos de amor e saudade, aqueles sentimentos do dia a dia que por algum motivo gostamos de ostentar. Deu uma vontade também de ouvir um rock'n roll sujo, aquele bem de verdade. Alguma lésbica cantarolando o amor na MPB também era uma boa, porque elas sempre o cantam melhor que os homens e as mulheres, elas sim devem saber o que é amor de verdade.

E nesses versos, nessas melodias e nesses líquidos hidratantes, eu ia me fazendo da minha ressaca. A minha ressaca de mundo. Você bem que me avisou: liberdade em excesso faz mal. Dito e feito. Agora eu quero um colo e meu universo e palhetas de cores se transformaram novamente na sua camisa quadriculada. Isso tudo para que eu me sentisse romântica, uma menininha boba e quisesse voltar pra você. Para que eu escrevesse um pouco além de versinhos idiotas de início de escrita, mas que ainda ostentam os mesmos sentimentos tão corriqueiros e tão esbeltos. Para que eu fizesse parte de tudo isso de novo. E o meu tudo isso inclui eu e você.