segunda-feira, 22 de março de 2010

Vestibular

Imagina: você ta lá no seu canto, feliz e contente com seus 16 anos, sem cansar jamais de fazer merda e só pensar nisso, quando, de repente, sem ao menos perguntarem a sua opinião, mandam você resolver o que você quer ser, o que você fará da sua vida. Como assim o que eu quero fazer? O que eu quero ser? Não basta existir, estar aqui, para ser? Tem-se, obrigatoriamente, que fazer algo da vida para que se possa crescer? Tem que ser nessa idade?

Com 16 anos todo mundo está no seu auge. Auge de fazer besteira. Sai-se a semana toda, vai-se a todos os jogos de futebol de seu amado time e as melhores festas, experimenta-se tudo que há de bom e proibido. É essa a época de contrariar seus pais, de acreditar que pode mudar o mundo e querem tirar isso de você. Se com 16 anos, você ainda está na barra da saia da mamãe e dependendo da moeda do sapato do seu pai, como você vai decidir o que quer fazer da vida?

Depois de lhe dada tal temida notícia (e de caída a ficha), você tem apenas um ano para reaprender tudo que você aprendeu ao longo de 15 anos e mais um pouco. Começa o martírio: estudar, estudar, estudar. Tomar café, tomar café, tomar café. Tomar coca, tomar coca, tomar coca. Dormir um pouco e.. estudar, estudar, estudar. Tomar café, tomar café, tomar café. Tomar coca, tomar coca, tomar coca... e assim por diante. Suas olheiras aumentam, sua namorada reclama que você não sai por causa das aulas à tarde e aos sábados, seu banho torna-se um momento precioso e você já quase não sente o gosto de sua comida. Por mais que seja aquele bacalhau com muita cebola e batata que a sua avó faz como ninguém.

Quando você chega nesse estágio, de vício no café e na coca, de dormir até em pé no metrô cheio às 18h, desiste. Decide o que quer ser, faz o vestibular, tenta conciliar sua vida toda e mantenha em mente: “ah, a faculdade é mais tranqüila, começo em julho e vou recuperar o tempo perdido antes e no começo”. E continue se iludindo.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Enfim, amor

Aquele nosso sentimento não tinha nome. Talvez tenha sido resultado de nossa imensa afinidade e de nosso grande tempo juntos - sozinhos. Ou quem sabe nós tenhamos amadurecido a nós mesmos e àquele antigo sentimento. Mas não me importo. Se antes tínhamos esse sentimento sem nome que me deixava com cara de boba e vontade de berrar aos quatro ventos o quanto eu era feliz, hoje eu te amo. Não que o amor não tenha em mim esse efeito - muito pelo contrário - mas sinto que ele é mais que isso. Agora me sinto plena em sua companhia, sou um alguém completo. Não sei como, mas você me arrepia a cada palavra, dispara meu coração a cada toque e ao mesmo tempo me esquenta com seu calor. Esse vai e vem de sensações me faz querer gritar aos sussuros bem no pé de seu ouvido o meu sentimento por ti. Se isso antes já não tinha nome, isso agora é amor.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Perdeu, achou

Será que é preciso que algo aconteça pra que alguém em algum canto do mundo perceba o valor de uma coisa qualquer? Essa coisa pode ser um bicho de pelúcia, uma carta, uma árvore, uma pessoa, um sentimento. Qualquer dessas coisas, se assim podemos chamá-las, se igualam no mundo da perda. Seria um erro dizer realmente que é tudo estritamente igual, mas o que importam as diferenças? Se perdeu, está perdido,e se não é material, então desiste, a perda foi enorme.

Quando se perde algo, fica sempre um pensamento de ‘como eu fiz isso? Como eu fui capaz de fazer isso? Como sou estúpido(a)!’, fica um sentimento nostálgico, uma coisa meio back in time, stop in time. Deseja-se voltar o tempo, parar o mundo e ter tudo de novo. Mas depois de um tempo simplesmente esquece-se. Esquece-se uma flor, um ipod, um carro, as bonecas de infância. É o poder do tempo. Mas não se esquece alguém, não se esquece um sentimento. Não por completo, não se o sentimento tenha sido sincero e/ou intenso.

Mesmo que você esteja completando bodas de ouro com seu marido, você lembrará com ternura do seu primeiro namorado com quem você teve a sua primeira vez. O sentimento sobrevive. Pode ser um carinho, uma lágrima, uma saudade, ou até um sentimento de raiva, aversão. Nesses casos fica claro que não foi um bom fim. Ficou algo não dito, umas palavras no ar, uma relação não bem discutida, um término não bem determinado. Significa que sobrou em um, geralmente em você, o sentimento forte, enquanto o outro já tinha esquecido, ou fingia ter. Significa em outro caso que as brigas superaram os bons momentos, que não era mais possível rir um do outro. E então o término foi em conflito. Não houve alguma coisa meio ultima estrofe de ‘No one’s better sake’, não teve sentimento reconciliador.

É o pior dos fins. É quando você presta mais atenção e pensa o quão preciosa era essa pessoa em sua vida, é quando precisa-se acabar com algo pra saber o valor dele na sua vida. Mas então já era. Ou não. Ou é o caso de ver como, embora haja dor, isso tenha sido melhor, um fim de vez, um adeus. E, nesse caso, ele descobrirá isso e será tarde demais, para ele.

Há também a perda que faz bem. Você perde num momento em que não se dá conta, num momento em que você não tem capacidade pra lembrar disso no futuro. E num momento você reencontra, sem saber que tinha perdido. E você fica com aquele sentimento ‘como é possível eu sentir isso e não conhecer?’, uma dúvida cruel. E então, de repente, a cunhada da sua empregada lhe conta que você o conhece há mais de 10 anos. Mas que surpresa! E então você entende que você não conheceu, você reencontrou, e então tudo faz sentido.

Os reencontros são as melhores partes da vida. Nesse caso, ‘seria um acaso, e não sorte’. Não há destino que se encarregue disso, vocês simplesmente estão aí, juntos, felizes e contentes. Sendo amigos ou sendo amantes. A perda e o reencontro, a melhor e a pior combinação da vida. É aí sim que você aprende a dar valor a coisa perdida e quando a tem de volta segura-a com todas as forças. É uma chance que você tem de ter o que você tinha de volta. E, cuidado, pode ser só uma na vida.

Resolvi resolver

Hoje resolvi resolver. De uma vez por todas. A calma com que o futuro se arrastava engolia o presente e me fazia infeliz. Essa lentidão desperta em mim uma fome de velocidade, tempo voando e vento no cabelo que eu não posso ter. Não posso, mas quero. O tempo é meu, o presente é meu, o futuro é meu. Como poderei ter minhas coisas se não tenho nem o meu próprio tempo para mim mesma? Sei, sou jovem, ainda tenho tempo. Mas não quero o agora, ele me machuca. Quero o depois; quero estar junto; quero estar junto depois; quero, depois, estar junto. Mas depois de que? Não sei.

Parece que estava seguindo a mim mesma a dois, mas de repente um avião caiu sobre nossas cabeças e eu voltei para casa sozinha, zonza. Zonza por ter três toneladas em mim, zonza por ter me deixado cair, zonza por ter me perdido dele. E perdida dele, estou perdida de mim. O ônibus que faz insistentemente todos os dias seu percurso, hoje se perdeu, mudou o caminho. E junto com ele, eu.

Onde estava eu com a cabeça quando resolvi pensar em viver o agora? Se o meu passado é lindo e meu futuro me agrada, essa lentidão do presente me fere. O presente é pesado. É um presente de amigo urso, um presente de Tróia, um cavalo de pau. A surpresa não é boa, não tem graça, não gosto de palhaços. Que graça há em se perder, em viver nesse tempo arrastado, em estar atordoado? E fingir, mesmo triste, que nada aconteceu, forçando um sorriso? Não, não há, não quero isso pra mim.

Hoje resolvi resolver. Resolvi resolver que dentro de mim há uma pessoa não com sede de futuro ou saudades do passado, há uma pessoa perdida. Uma pessoa que só se acha nele, essa foi minha decisão. Mas como posso ter conseguido decidir isso e ter me afastado? O presente demora e não me agrada mas o futuro está aí. E o futuro é nosso. Enquanto isso, vai passando, que depois eu me acho nele de novo, quando estiver livre das garras do presente arrastado e arrastador. Mas e o amor? O amor cresce.

terça-feira, 2 de março de 2010

Confusão

Àquela altura ela já se arrastava pelo chão. Havia uma dor profunda que lhe sufocava e não a deixava respirar, juntamente com uma outra dor, agora mais forte, na altura das costelas, como se tivesse recebido um chute. Suas lágrimas jorravam de tal forma que Maria acreditava que não iam mais parar de escorrer. Com o passar do tempo, ela começava a se questionar se não ia mais sair daquele penoso estado. Ao todo, estava no chão há uns 3 minutos, mas achava que já tinha sido mais de hora. Então ela resolveu limpar-se e levantar-se.

Maria nunca imaginou que aquele homem a pudesse fazer rir tanto assim. Ela estava, realmente, ficando apaixonada.