Demorou um certo tempo até eu me acostumar, mas hoje estou aqui. A ideia de ter alguém do meu lado todo o tempo, alguém que eu teria que prestar atenção e me doar mais do que me doo aos outros, de uma certa forma, me incomodava um pouco. Sempre acreditei na teoria de que eu me canso das pessoas facilmente. Não chutei essa teoria simplesmente, não pense isso, foi um longo período de estudo sobre a pessoa mais complicada pra mim: eu mesma.
Acredito que esse tempo de estudo tenha me deixado um pouco mais introspectiva. Ou quem sabe o período de dúvida, de adaptação. Não sei, mas sei que algo me tornou mais introspectiva. O estudo me cansava. Eu precisava ficar muito tempo pensando com meus próprios botões o que eu fazia e como eu agia, o que me fazia querer escrever. Acho que foi daí que desenvolvi minha paixão de verdade. Pelas letras e por ele.
Estava acostumada a ser sozinha, a não ter ninguém. Ou pelo menos a achar que não tinha ninguém, porque nem mesmo com a minha família eu pensava que podia contar. Mas algo me perturbava. No meu intimo, eu sabia que eu tinha, pelo menos, uma pessoa. E meu intimo mais intimo ainda sabia que aquela pessoa também me tinha, e por isso me deixava com o coração tão disparado quando eu me encontrava a sós com ela. Só fui tola em não perceber antes. Mas, não, não é uma pena: dizem que o que não damos tempo para acontecer, o destino se encarrega de tirar. Eu te obedeci, destino!
No comecinho, rejeitei. A ideia de ter aquela pessoa ao meu lado me assustava, talvez pela proximidade. Meu tolo lado psicológico! Escondi durante um tempo, fugi, me perguntei o porquê de me sentir tão balançada e mudada por ele, corri de um lado para o outro perguntando o que acontecia, e nada. Alguém em algum momento me fez parar e pensar. Parar e analisar. Parar e escrever. Parar e amar.
Depois me acostumei. Não a rotina ainda, claro, mas a ideia. Agradava-me realmente a ideia de ter alguém que gostasse de mim ao meu lado. A rotina era estranha, tudo que nos faz mudar os hábitos nos é estranho. Estranha nossa mania de nos acostumar! Eu sentia que não era só eu quem estranhava tudo, mas ele também. Mas eram jeitos diferentes.
Com o tempo, me acomodei. Admito que, naquela época, eu era acomodada: tinha alguém que me alguém que me amava ao meu lado, o que me transmitia segurança emocional e psicológica. Alem de ser amigo. Eu não, agia mais como amiga. Eu gostava, muito, mas não amava. Isso me levou a ruínas.
Ao longo desse período, a culpa de enganar alguém que me amava ia me consumindo inteiramente. Ele me amava, eu não amava, mas dizia que amava; achava isso perverso. Isso foi se arrastando até o momento que eu explodi e quase o perdi. Incrível como nós, seres humanos pseudo-racionais, só nos damos conta de alguém sentimento quando prestes a perder a causa dele!
O resultado dessa explosão foi catastrófica: paixão. É, catastrofica. Não existe nada mais cruel que ela, capaz de te levar do céu ao inferno em minutos. Em muitas línguas, paixão está ligado ao sofrimento. Na nossa, está, embora ninguém lembre que seu real significado é sofrimento. Paixão de Cristo, sofrimento de Cristo! O alemão, língua tão estranha para nós, também tem seu significado e palavra de sentidos negativos, ligados, também, a sofrimento. Agora, comigo, não tinha mais volta.
E então que dessa brincadeira eu inventei um sentimento só meu e que me agradava muito: o estar apaixonada por quem se ama, mas saber que o amor vem antes. Porque, quase sempre, a paixão vem antes. Aquele desejo e obsessão pela pessoa que você cruza na esquina acaba se tornando, com a convivência, amor; ou some, se não houver convivência. Eu era apaixonada e amante, mas a paixão veio depois.
E lembrete: ela cresce. Ambos crescem.
Um comentário:
Nossa, o texto é muito você. Mostra muito como nós evoluímos. Cada um sozinho, e os dois juntos. "Ela cresce. Ambos crescem." Gostei desse.
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