quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mais uma canção

Não era assim tão impossível de acontecer. O Catete do Leblon não é tão longe. Quem dirá a Lapa do Centro. Mas a vida deles era marcada de muitos desencontros. Logo essa vida nossa que tem como principal caracteristica os certos acasos, e tudo mais é descoincidência.
Era um romântico desvairado com uma menininha que se apaixonava a cada esquina. Se conheciam bem. Conseguiam conversar sobre aquelas coisas bobas que não conversamos com ninguém, exatamente por não termos com quem falar. Talvez por isso ele tenha se apaixonado. Talvez por isso ela o considere um grande e só amigo.

Tentavam, isso é verdade, se encontrar. Mas enquanto um queria quarta, o outro queria domingo. Então eles resolviam ir a Botafogo na sexta, tudo no meio. Mas desistiam por preguiça só de pensar que teria que discutir sobre o horário. Ela quase não se importava, tinha muitas outras pessoas para agradar e muitas outras pelas quais se apaixonar, e, o mais importante: sabia que ele estaria sempre lá. Porque ele, de certo, estaria a postos. A menina, por mais que avoadinha, não era burra, sabia do segredo que o garoto contava aos sete ventos. E abusava, todos víamos.

Mas ela era tão incerta, a menina. Trocava de jeito e humor como quem trocava de roupa e deixava sua sentimentalidade ser carregada nas costas de palavras bem organizadas na confusão de sua mente. Ele a apelidava de passarinho, por mais que estivesse mais pra fênix. E costumava retratar seus encantos e desamores em canções.

Começou com um versinho aqui, uma melodia acolá e conforme o sentimento crescia - sempre acompanhado da frustração - uma canção era construída. E mais uma. E mais uma. E mais aquela outra que tinha até nome de raio.

Era músico, o menino. Em algum momento de sanidade da menina, seus acordes, por mais que ele ajeitasse, estavam desafinando: era a ela mais próxima. Ele não entendia e fazia das suas músicas pequenas poesias. Mas o tolo menino não sabia que a magia de sua melodia estava naquilo que a vida mais sabia fazer: desencontrar. Mal sabia ele que a beleza vem daqueles desencontros com quem não é para nós - embora juremos de pés juntos que sim -, para dar lugar a sinfonia clara do encontro com quem é nosso.

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