Às vezes, acho que todos se sentem assim: nostálgicos. Uma vez, em casa, estava largada no sofá observando as voltas do ventilador. É impressionante as voltas que o ventilador dá - rápidas e voltando sempre ao mesmo lugar. Assemelha-se, incrivelmente, a vida. Não é à toa que o ditado diz que o mundo dá voltas, e que, além disso, ele é pequeno, por isso acaba tudo voltando ao mesmo lugar. E são essas voltas que culminam o nosso momento nostalgia.
Então, depois de chegada a essa conclusão, em mais uns de meus devaneios, resolvi levantar, esquecer isso e fechar a janela. No vento frio e seco estava uma menina na rua a brincar de pisar nas vagens retorcidas e secas das árvores. Seu pai a olhava de mãos dadas e ria. Por um momento, vi-me nessa criança.
Minha avó, meu cachorro, eternos companheiros meus dessa brincadeira. Meu antigo uniforme. A mesma casa, mas tão diferente. A mesma rua, já não a mesma. As mesmas pessoas, já tão mudadas. Um tempo sem preocupações por minha parte, onde todos eram iguais. Impressionante esse pensamento infantil: tão teoricamente correto e diariamente incorreto, mera utopia.
O impacto que tal visão teve sobre mim, me foi curioso. Um ato tão normal, tão sem importância, proporcionara sentimentos assim. Era só uma brincadeira e mais nada. Por fim, admito que não era só isso. Era uma vida. Era uma avó, um cachorro. Era a infância.
Acho que ainda não cresci. Na verdade, cresci, nota-se, mas não o necessário. Não estava preparada pra viver na mesma casa ainda, pra ver essa cena, pra estar tão longe e próxima do meu passado. Era algo que a rotina tinha banalizado, mas que essa criança tornou tão estranhamente estranho. Nostálgico, essa é a palavra certa.
E, depois disso, ao ir andando até a cozinha buscar meu copo d’água, tudo foi passando a ser nostálgico. Admito ser nostálgica, e sou até com um tempo que não vivi. No momento, sentada na cadeira, sob o móvel da cozinha, com meu copo na mão, revivi uns momentos naquela casa. Vi uma menina pequena no seu triciclo de plástico indo e voltando do fim do corredor enquanto mastigava sua comida. Vi toda uma família na sala vendo a menininha, o xodó da casa, cantando e falando errado, fazendo todos rirem. Vi, então, sem a menininha, três meninas: uma de 11, uma de 12 e outra de 3 na sala comendo ao som de música dos anos 80. E vi a mesma família, também sem a menininha, comemorando a vitória da copa de 1994 sobre a Itália enquanto o cachorro rasgava as almofadas. E vi, por último, a menina na rua pisando nas tais vagens.
Imagens da minha vida, minha própria nostalgia. Imagens imaginadas de uma realidade descrita a mim, minha própria nostalgia não vivida e não por isso sem importância para mim. Boas lembranças de outros tempos, nem melhores nem piores, mas seus e com muita importância.
Mas, ao pensar isso, vejo que ainda não cresci, continuo brincando a brincadeira da vida. Vide que ainda hoje, andando pelas tardes de outono, vou pisando nas vagens em frente ao meu prédio.
Um comentário:
comparações são sempre bem vindas.
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