sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A vida e os passageiros

Outra vez no ônibus, vi-me vendo muitas pessoas importantes e conhecidas de minha vida. Mera impressão.Talvez isso ocorra no ônibus por ser um momento só meu e, assim, pensar em tudo, resultando, assim, na minha mania de materializar tudo que penso. Estou ali ao mesmo tempo tão minha e tão vulnerável aos outros e ao mundo. Como se não bastasse a mim mesma.

Ao entrar, todos os lugares estavam ocupados, exceto o do meio da última fileira. Sentei-me. Ao passar, os rostos tornavam-se cada vez mais conhecidos. Isso fez lembrar-me de personagens de minha infância.

Comecei, então a pensar em pessoas coadjuvantes em minha vida, que fizeram uma participação especial por um tempo, do tipo que você conhece e nunca mais vê. Os chamados substituintes e substituidores. A cada vez que pensava em uma pessoa que passara por minha vida, um outro alguém, coincidentemente, saía do ônibus. Nenhum outro novo passageiro ousava entrar, parecia que as portas estavam trancadas.

O ônibus ia se tornando cada vez mais vazio, morto, sem graça. E, junto ele, minha vida. O ônibus era como se fosse eu. Eu havia me fechado pro mundo, sem motivo aparente, e todos os que estavam perto de mim estavam indo. Tornava-me uma pessoa antiga. Estava ficando vazia: vazia de sentimentos e carente de carinhos decorrente da falta de pessoas presentes.

Foi quando, aí sim, lembrei dele, lembrei de Luis. Luis fora mais que um amor, uma meninice dos tempos de adolescente - fora um amigo, alguém muito próximo. E alguém que, mesmo após esses seis anos de distancia e falta de contato, o carinho prevaleceu. A partir de Luis fui lembrando de vários outros antigos amigos daqui, a quem eu guardo ainda, em algum canto, um carinho especial e uma vontade enorme de reencontrar.

Nesse momento, a porta do ônibus abre. Um homem, a quem eu não conheço, entra e senta-se num banco próximo. No ponto seguinte, umas pessoas entram, sentam-se com o homem e eles começam a conversar, tocar pandeiro e cantar. Não eram muitos, mas estavam alegres.

O ônibus ficara, enfim, não muito cheio, mas ficara vivo, alegre, com musica. Assim como minha vida era com meus amigos, os que quero reencontrar e tornar a conviver e viver.