quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Motivo feminino

Sai, Pedro, não quero você aqui! Me deixa sozinha, por favor. Você não me dá espaço, não me dá tempo, não me dá oxigênio. Eu preciso ver os outros, sentir os outros também, sabia? Tens que aprender a não ser tão ciumento, tão carente, tão sufocante! Isso faz mal a nós, sabia? A relação fica péssima.

Sai daqui, me dá um tempo, quero curtir meus amigos e o resto de tempo livre que me resta! Mas que bobagem, Pedro. Não tem motivo para você ter ciúmes de mim! Já disse que com Luis não há nada e que Marcos é passado, parece que não confias em mim! Dai-me espaço, criatura!

Tá, espera, me acalmei. É, tens razão, tenho que te entender mais também. E tentar brigar menos e fazer menos doce e muxoxos quando algo não me agrada em ti. Desculpe, é a TPM.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Traição

Eu te traí. É, isso mesmo. Ah, não faça essa cara de bobo, Luis, no fundo você sempre soube. Como eu queria que você reagisse? Bom, não sei, mas continuo achando que você sempre soube, mesmo que lá no fundo. Lembra que você sempre implicou com uns amigos certos e sempre teve um ciúme imenso? Então, era porque no fundo você sabia. Tá, também não vim pra dar uma de psicóloga. Ai, Luis, pára com esse drama. Eu sei, eu sei que é difícil, mas é difícil pra mim também, poxa! Não, foi só uma vez. Fiz porque ainda não me sentia em ti, nem você em mim. É, isso mesmo. Foi no começo, poxa, logo no primeiro dia, não dava tempo de associar tudo. Como tive coragem? Apenas tive.

Estou te contando, Lulis, porque não aguento mais. É, é uma coisa chamada culpa. Culpa, consciência pesada, voz interna, tem vários nomes. Só que ao longo desses 14 meses ela vem me tormentando e agora eu precisei contar. Não contei antes porque não tinha coragem, Luis! Acho que eu nunca devia ter ido tão longe dos meus limites e ter namorado, já que nem nas primeiras 24 horas consegui me conter. Não, Luis, não faz isso, por favor. Eu tô te contando agora, você não descobriu por outros. Eu te amo, Luis, eu te amo muito! Como você tá negando isso? Se eu não te amasse, não estaria agora te contando, homem!

Se eu não te visse em tudo que faço, se eu não tivesse você em tudo que vejo, se eu não te tivesse em mim, não existiria culpa e nós não estariamos aqui agora discutindo. Não, não quero dizer agora que a culpa de tudo é eu te amar. Quero dizer que ao longo desse ano todo o meu amor transformou esse ato errado em culpa e me atormentou. Não, Lulis, você sempre foi ótimo. Eu não acabei de dizer que foi no começo? Então.

Por favor, Lulis, não faz isso comigo. Eu era uma criança, eu sou uma criança! Uma criança metida que quis brincar longe do quintal e se machucou. Não, você não me machucou, eu me machuquei e te machuquei. E fiz isso sozinha! Só não fique longe, Luis, por favor. Eu preciso de ti. Se fico um dia longe de ti, passo a te lembrar em tudo que faço. Estou sendo sincera, por favor, não vá.

Não, Luis, na época não teve importância. Ah, fiz porque deu vontade, porque já tinha pensado nisso, porque ainda não tinha caído a ficha do nosso namoro. Não, não tinha pensado em te trair, tinha pensado em ficar com quem eu te traí, mas isso não importa. Mas não tinha mesmo! Se tivesse importância aquele homem pra mim, eu não estaria aqui agora com você, teria acabado àquela hora.

Se ainda te amo? É claro, que pergunta boba! Senão não estaria aqui contando. E você, ainda me ama? Mesmo depois disso tudo?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Yesterday came suddenly

Às vezes, acho que todos se sentem assim: nostálgicos. Uma vez, em casa, estava largada no sofá observando as voltas do ventilador. É impressionante as voltas que o ventilador dá - rápidas e voltando sempre ao mesmo lugar. Assemelha-se, incrivelmente, a vida. Não é à toa que o ditado diz que o mundo dá voltas, e que, além disso, ele é pequeno, por isso acaba tudo voltando ao mesmo lugar. E são essas voltas que culminam o nosso momento nostalgia.

Então, depois de chegada a essa conclusão, em mais uns de meus devaneios, resolvi levantar, esquecer isso e fechar a janela. No vento frio e seco estava uma menina na rua a brincar de pisar nas vagens retorcidas e secas das árvores. Seu pai a olhava de mãos dadas e ria. Por um momento, vi-me nessa criança.

Minha avó, meu cachorro, eternos companheiros meus dessa brincadeira. Meu antigo uniforme. A mesma casa, mas tão diferente. A mesma rua, já não a mesma. As mesmas pessoas, já tão mudadas. Um tempo sem preocupações por minha parte, onde todos eram iguais. Impressionante esse pensamento infantil: tão teoricamente correto e diariamente incorreto, mera utopia.

O impacto que tal visão teve sobre mim, me foi curioso. Um ato tão normal, tão sem importância, proporcionara sentimentos assim. Era só uma brincadeira e mais nada. Por fim, admito que não era só isso. Era uma vida. Era uma avó, um cachorro. Era a infância.

Acho que ainda não cresci. Na verdade, cresci, nota-se, mas não o necessário. Não estava preparada pra viver na mesma casa ainda, pra ver essa cena, pra estar tão longe e próxima do meu passado. Era algo que a rotina tinha banalizado, mas que essa criança tornou tão estranhamente estranho. Nostálgico, essa é a palavra certa.

E, depois disso, ao ir andando até a cozinha buscar meu copo d’água, tudo foi passando a ser nostálgico. Admito ser nostálgica, e sou até com um tempo que não vivi. No momento, sentada na cadeira, sob o móvel da cozinha, com meu copo na mão, revivi uns momentos naquela casa. Vi uma menina pequena no seu triciclo de plástico indo e voltando do fim do corredor enquanto mastigava sua comida. Vi toda uma família na sala vendo a menininha, o xodó da casa, cantando e falando errado, fazendo todos rirem. Vi, então, sem a menininha, três meninas: uma de 11, uma de 12 e outra de 3 na sala comendo ao som de música dos anos 80. E vi a mesma família, também sem a menininha, comemorando a vitória da copa de 1994 sobre a Itália enquanto o cachorro rasgava as almofadas. E vi, por último, a menina na rua pisando nas tais vagens.

Imagens da minha vida, minha própria nostalgia. Imagens imaginadas de uma realidade descrita a mim, minha própria nostalgia não vivida e não por isso sem importância para mim. Boas lembranças de outros tempos, nem melhores nem piores, mas seus e com muita importância.

Mas, ao pensar isso, vejo que ainda não cresci, continuo brincando a brincadeira da vida. Vide que ainda hoje, andando pelas tardes de outono, vou pisando nas vagens em frente ao meu prédio.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Quem é mais sentimental que eu?

É incrível como as coisas mudam rápido e nós sequer podemos fazer algo. Quando vemos uma relação, uma pessoa, um sentimento já se foi. E a nós só nos resta lamentar. Mas tem casos em que as coisas não se vão, apenas mudam. Devemos aproveitar.

Eu sempre tive bons amigos. Mas não sou da tribo que ostenta muitos e é visivelmente amado e querido por todos - sempre fui da tribo que dá amor. Sempre penso em mim mesma como alguém com a necessidade de se apoiar sentimentalmente nos outros, e somente de uma única forma: doando-os o amor que tenho. Que, acredite, não é pouco. Afinal, quem dá, recebe.

Conheço poucos assim como eu. Acho que somente uma amiga se encaixa no que eu chamo carinhosamente de ''free love''. Doamos amor a quem quer que seja, somos amáveis, carinhosas e cativantes (e muito modestas também!). Mas não somos hipócritas, queremos, sim, algo em troca. E queremos a coisa mais simples e mais natural do mundo: consideração. Afinal sabemos que uma consideração por receber amor, amor se torna.

Minha família, visivelmente estranha, me ensinou isso. E, por isso, me apoio em quem dou meu carinho. Mas não gosto de mudanças, isso afeta os sentimentos. Principalmente, a mudança de ser.

Não gosto quando alguém muito próximo de uma hora pra outra me trata diferente, ou melhor, com indiferença. Afinal, sempre fomos juntos, sempre fomos como um. Agora eles são um e eu sou o resto. Não é justo que uma outra relação de carinho envolva e termine com essa primeira relação de amor, não é.

Mas a mim só me resta acreditar que o sentimento original não se fora, apenas tenha mudado por um engano. E continuar doando esse amor, visando, ainda mais nessa relação, que a volta perpetue. Afinal, não é ficando de bico e braços cruzados para a pessoa que vou receber o amor. Quem recebe faz por merecer. E quem sabe ele não volte a ser o que era? Ou melhor, quem sabe ele não cresce?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A vida e os passageiros

Outra vez no ônibus, vi-me vendo muitas pessoas importantes e conhecidas de minha vida. Mera impressão.Talvez isso ocorra no ônibus por ser um momento só meu e, assim, pensar em tudo, resultando, assim, na minha mania de materializar tudo que penso. Estou ali ao mesmo tempo tão minha e tão vulnerável aos outros e ao mundo. Como se não bastasse a mim mesma.

Ao entrar, todos os lugares estavam ocupados, exceto o do meio da última fileira. Sentei-me. Ao passar, os rostos tornavam-se cada vez mais conhecidos. Isso fez lembrar-me de personagens de minha infância.

Comecei, então a pensar em pessoas coadjuvantes em minha vida, que fizeram uma participação especial por um tempo, do tipo que você conhece e nunca mais vê. Os chamados substituintes e substituidores. A cada vez que pensava em uma pessoa que passara por minha vida, um outro alguém, coincidentemente, saía do ônibus. Nenhum outro novo passageiro ousava entrar, parecia que as portas estavam trancadas.

O ônibus ia se tornando cada vez mais vazio, morto, sem graça. E, junto ele, minha vida. O ônibus era como se fosse eu. Eu havia me fechado pro mundo, sem motivo aparente, e todos os que estavam perto de mim estavam indo. Tornava-me uma pessoa antiga. Estava ficando vazia: vazia de sentimentos e carente de carinhos decorrente da falta de pessoas presentes.

Foi quando, aí sim, lembrei dele, lembrei de Luis. Luis fora mais que um amor, uma meninice dos tempos de adolescente - fora um amigo, alguém muito próximo. E alguém que, mesmo após esses seis anos de distancia e falta de contato, o carinho prevaleceu. A partir de Luis fui lembrando de vários outros antigos amigos daqui, a quem eu guardo ainda, em algum canto, um carinho especial e uma vontade enorme de reencontrar.

Nesse momento, a porta do ônibus abre. Um homem, a quem eu não conheço, entra e senta-se num banco próximo. No ponto seguinte, umas pessoas entram, sentam-se com o homem e eles começam a conversar, tocar pandeiro e cantar. Não eram muitos, mas estavam alegres.

O ônibus ficara, enfim, não muito cheio, mas ficara vivo, alegre, com musica. Assim como minha vida era com meus amigos, os que quero reencontrar e tornar a conviver e viver.

I believe in yesterday

Era uma um dia primaveril atípico. Embora fosse realmente início de outubro, estava demasiadamente frio para o Rio de Janeiro e chovia de um jeito que não se via há um bom tempo. Com ass ruas alagadas, tudo se tornava um caos. Um péssimo dia para os cariocas.

Eu fugia da chuva, mas todo meu esforço ia em vão. Estava correndo na rua, escondida sob o capuz do casaco, quando passo por uma vitrine de uma loja de cd’s e dvd’s. Parei. A vitrine anunciava que todos os lp’s dos Beatles haviam sido transformados em cd’s, tudo em seu formato original, em homenagem ao aniversário da Abey Road. Fiquei encantada.

Entrei na loja e comprei o dvd de um dos últimos shows deles e fui para casa o mais rápido que pude. Não conseguia conter minha felicidade em poder ver, pela primeira vez, mesmo que por dvd, um show deles. Afinal, eram os Beatles. Cheguei e assisti maravilhada.

Aquilo me remeteu a uma nostalgia, mas uma nostalgia de um tempo em que não vivi. Os Beatles não são da minha época e passam muito longe disso, embora tenha crescido ao som deles. Essa falsa nostalgia era um sentimento estranho, como se algo de mim tivesse ficado pra trás e eu quisesse recuperá-lo, embora não tivesse vivido pra tê-lo.

No fundo acho que nunca quis pertencer a essa época que me encontro. Sempre senti como se quisesse voltar no tempo e ser da época deles, tendo, assim, a chance de ver tudo aquilo que não tive chances de ver agora nos anos 2000. Meus conceitos, minhas opiniões, meus gostos musicais e de roupas me remetiam a essa época, ao passado. Cresci embalada pelo que me contavam, pelas músicas que ouvia, pelas fotos que decoravam minha casa, sempre desse tempo.

Hoje, vivo ao som dessas músicas, vestindo as estampas, lendo as revistas de moda de um tempo longe. Tudo que sempre me contaram, me deixam, agora, com saudades desse tempo em que só existiu em minha mente. Essa falsa e sonsa nostalgia me faz acreditar que o passado nos pertence e sempre nos pertencerá e que, cada vez mais, as novas gerações buscarão nele suas inspirações. Obrigada, Paul, John, George e Ringo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Tentativa de fuga

Amo-te, e não te amo. Mas não por não sentir-te amado em mim, e sim por ainda não conhecer as leis do amor.se é que elas existem mesmo, como me ensinaram. Ou me iludiram. Não que eu ache que haja uma convenção universal de como se deve amar, nem que não confie em você. Não confio em mim mesma que, pobre de mim (e de todos), ainda não conheço as facetas do amor. Só amo-te, mas fujo. Ou tento.