domingo, 30 de outubro de 2011

Alguma coisa com os Beatles

Tô precisando escrever, sabia? Tô precisando pôr tudo isso que tá aqui dentro pra fora, tirar de cima de mim todo esse estresse e monóxido de carbono na cidade grande, que tiram minha capacidade de respirar bem e de ver o mundo mais colorido. Acho que não tem nem muito o que dizer, mas isso aqui já é uma baita de uma terapia, psicologia freudiana nunca funcionou muito comigo. Não que eu faça disso um diário, imagina 'querido diário, hoje eu comprei pão'. Definitivamente não. Comprar pão só muda a minha vida se eu encontrar o amor da minha vida, nem que ele seja o asfalto cinza se um carro me atropelar. E eu nem gosto muito de pão mesmo.

Ontem eu vi um musical dos Beatles. Péssima notícia: eu não sabia duas letras. Tô precisando rever meus conceitos de música, concluo. Mas, no geral, foi uma bela noite. A fase anda boa pra aqueles que não gostam de carnaval pelo excesso de felicidade. Semana passada me obrigaram a escrever sobre a felicidade e o único método que encontrei para fazer isso era falando da tristeza. Mas não há pelo que se descabelar. Eu posso até chorar e me trancar no quarto prometendo nunca mais sair. Ninguém vai morrer. Nem eu. 

Então eu resolvi ouvir Something pra ver se tirava ela da cabeça. Tola tentativa. Tenho olhos grandes e expressivos grudados aos meus que cismam em voltar ao meu pensamento quando esses acordes são tocados. Não reclamo, Beatles e boas lembranças estão sempre aí para nos fazerem felizes. Então olho pro meu quadro 3D - agora tudo é 3D - do Sgt Peppers e penso que a minha sorte é maior do que a daquelas pessoas de comédias românticas e sorrio um sorriso sereno.

É, acho que se um dia eu tivesse que fazer uma receita para a felicidade, ela seria juntar Beatles e uma boa companhia, seja ela quem for. 

sábado, 8 de outubro de 2011

Brincar de saudades

De todo amor que existe, de todo amor que sinto, que vejo, que olho, que permeio, nada é real. Olho para trás e vejo tempos diferentes. Eu acreditava ser feliz naquela época. Sentimentos mais sinceros, dores mais fortes, palavras mais doces. As palavras ainda transbordavam de mim naquela época - hoje mal me alimentam. Dois anos de idade a menos e duas doses de felicidade a mais.

Mas nada do que um dia me fez feliz pode ser verdadeiro. Convenhamos: tudo isso é altamente sujeito a modificações. Nosso cérebro tem o sujo poder de modificar nossa memória para que passemos a acreditar que tudo tenha acontecido do jeito que quisemos. Se o dia é bom, o passado era péssimo e tudo progrediu a passos largos. Se o dia for ruim, sai de perto, que o nosso pretérito - principalmente o imperfeito - era perfeito.

Brinco de sentir saudades. Na verdade, segredo: nada sinto. O saudosismo de tempos diferentes e com menos preocupações me agrada, mas o presente é um futuro passado e eu sentirei falta dele. Nunca achamos que exatamente aonde estamos, aonde vivemos e quando estamos seja bom. Nenhum desses momentos que achamos que sentimos falta são reais, e exatamente por isso sentimos tanta falta deles assim. c

Habitamos o planeta dos paradoxos e deveríamos ser chamados de 'ser insatisfeito'. Nosso nada é tão nosso tudo que se repete continuamente, marcando-nos com saudades, pessoas e momentos que tem sua mísera essência - muitas vezes erroneamente - captadas por nossos sentidos. Nossas vidas são construídas somente em nossas mentes, tudo mais é reflexo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Paráfrase ou paródia?

Vejo daqui de cima toda a plateia que me observa de suas respectivas janelas - algumas até do asfalto. Minha baixa altura nunca me permitiu ver o topo da cabeça dos outros, mas a vida me levou às alturas em pouco tempo. Sejamos sinceros: toda essa coisa de se equilibrar num parapeito é simplesmente uma metáfora dizendo como ser sincero pode te levar a loucura. E eu, mais do que nunca, posso afirmar sobre essa minha iminência no destino.

Observo olhares impressionados. As pessoas devem se esquecer que para se manter nesse abismo é preciso já muito equilíbrio, pois, do contrário, eu já estaria jazendo naquele asfalto duro. Aqui dentro há algumas e elas me chamam. Reluto e teimo em não ir - aqui fora me atrai mais. Eu sei que quando eles me chamam eles estão me amando. Quando querem me tirar do vento, do sereno e das chuvas de verão: eu sei que eles me amam nesses momentos. Querem me proteger, eu sei que querem o meu bem.

Quando eles tentam fazer com que eu sinta menos, me importe menos e vá colher flores com eles, eu sei que eles me amam e que eu tenho tudo pra ser como eles.

Mas acontece que sou triste.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Dona Espinho

Sigo andando olhando para baixo, observando anteriormente o caminho de uma vazia existência que seguirei. Minha vida anda em gerúndios, tudo começa, nada termina. Com quantos meios termos sou capaz de viver? Na teoria contabilizo vários. Sempre achei que poderia dividir-me entre vários e dar igual atenção, somente atenção, sem envolvimento. Tolo ponto de vista de quem é de água e acha que conseguirá não se apegar. Pode-se até se dividir, contudo gostará de cada milímetro daquilo que ocupar.

Ocupei e fui ocupada de diferentes maneiras. Diferentes pessoas. Diferentes lugares, posições e sexos. Diferentes pra mim é de dois pra cima e é exatamente esse número que tanto me aflige. Dois transformado em três. Três confusões e conflitos numa relação a três constituída de duas relações de dois. Sei, também acho confuso.

Demonstraram-me minha confusão mental como um ciclo vicioso em forma de um oito horizontal. Infinito. Minha dor psicológica tem a péssima mania de virar dor física. Dói tudo e o mundo gira a minha volta, enquanto vozes estridentes ecoam dentro e fora de mim.

Com quantas cabeças transtornadas e corações apertados sobrevive-se a uma confusão infinita? Tenho somente um de ambos, e um medo imenso. Medo de amar e ser amada, medo de relacionamentos. Sim, um enorme medo. O medo de sentir-me presa, assim como o da liberdade, tiram-me qualquer apreço por algo firme e pela total solidão.

Isso parece estranho e de fato o é. Não sei bem o que sou, nem o que quero, mas imagino que não seja eu a melhor companhia do mundo. Tudo que eu toco estraga. Tenho o incrível poder de afastar as pessoas de mim, tenho certeza absoluta que em algum momento farei isso com todos. E, então, seguirei andando a pisar nas vagens secas da rua - sempre tive essa mania. Dona Flor, enfim, retornará ao seu lugar no fim do livro: sozinha.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

2 + 2 = 3

Eram dois. O coração se encontrava dividido e despedaçado entre dois caminhos diferentes. Nunca haviam lhe contado que a realidade era pior que o platonismo. Antes, vivia no sonho, no olhar, no querer - no sonhar. O mundo das ideias sempre lhe era mais próximo.

Contudo, num dado momento, o acaso veio a surpreender. De uma forma inusitada, um forte olhar na dança, um par de olhos castanhos vieram a seu encontro. Acaso, muito acaso mesmo daquela aleatoridade que reagia-lhe a vida. Os olhos expressivos gritavam além do que a boca permitia dizer. De primeira, fortes; mas depois tornaram-se amigáveis. Os cabelos longos e castanhos - embora ainda ache eu um diferente tom de loiro - demonstravam o oposto daquilo que posteriormente chegaria a conhecer. Tudo aquilo era novidade: pessoa, idade, cheiro. Perdia-me, sem perceber, de minha rota. Que rota? Não sei. Mas o novo era atrativo, chamava, divertia, quase que implorando minha participação.

Comecei rindo de minha própria sorte. Mal ou bem, mantinha perto de mim o novo e o velho; a brincadeira e..bem, a brincadeira. Não mantinha nada sério ou ao menos queria algo sério. Estou escutando um homem falar sobre amar avião e ter medo de voar, e assim me sinto eu: quero o amor e o carinho, mas sem relacionamento. Dava certo. Dava emoção, adrenalina, frio na barriga. Se queria certeza e carinho, corria pro velho apartamento já conhecido; se queria mais carinho e um entendimento quase perfeito, o cheiro me guiava até o bairro arborizado. Egocêntrico, eu sei. Babaca, eu sei. Escroto, medroso, errado. Eu sei, mas não sou de ferro, queria carinho, sou gente. Era bom. Tempos em que a fantasia e a realidade se misturavam, mas sonhos não duram muito - principalmente aqueles que vivenciamos.

Prometemos não nos envolver, aquilo era um jogo. Uma vida de adulto vivenciada por duas crianças que, tolas, não sabiam o terreno que pisavam. Ouvíamos alertas, mas quem disse que dávamos atenção? Nada. Tempo, conversas, mensagens, dinheiro, dinheiro, dinheiro e um pai reclamando da conta de telefone. Havia alguns surtos - sempre há quando tratamos dessas duas pessoas -, mas juntas os sorrisos venciam. Pelo menos o meu. Contava nos dedos pobres e úteis das mãos as vezes em que houve algum encontro sem preocupação. O resto era no perigo, proibido e escondido. Escondido de nós mesmas, só se for. O mundo via aquilo que não vimos. Os seres humanos, quer dizer, corrigindo, as mulheres humanas tem um perfeito dom de se apegar àquilo que lhes faz bem. A aproximação era inevitável e tinha gostinho de travessura. Era uma travessura, mas de gente grande. Só que travessura em algum momento machuca e magoa o outro.

Eram três. Eu, cá de minha confortável e egoísta posição, pensava que eram apenas dois e esquecia que todos nós juntos formávamos três. Havia uma conversa, uma situação até estranha, porém tolerável. Mas aí veio o ciúmes, discreto e devagar como duas simples letras numa conversa - hm. E cresceu, junto com ele, o envolvimento. De quem? Todos. Mas três não é par e num universo de pessoas carentes, a junção nunca poderia dar certo. Surpreendo-me com todas as minhas reações nesse novo universo. Surpreendo-me por algo, dessa vez real e tangível, ter desviado minha atenção. Pergunto-me agora como pensamos que daria certo. Pergunto-me como achamos que não nos envolveríamos. Perguntam-me como aguentamos tudo isso. A resposta é simples: era tudo brincadeira. Somos todos crianças e de uma hora pra outra, no compasso de um sentimento, tivemos que crescer.

Aqui dentro deu um nó. Aqui dentro tem um nó. Eu sou covarde. E, assim como não consigo terminar esse texto, não consigo terminar essa história.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Paranoia

Lá está ela mais uma vez. O olhar andava perdido, a noite parecia ter sido divertida, mas numa parada para respirar ela já não achava mais nada daquilo interessante. É bipolar, diziam na brincadeira, mas só ela sabia como era carregar o fardo de ter algo assim. Isso a irritava, assim como toda aquela alegria toda. As vozes que viviam dentro dela haviam migrado para fora e essas a droga não ajuda a calar.

O "4" já não a ajudava mais. Havia apelado à Renato, mas chorava sempre que o ouvia e achava que nem sempre o choro é a solução. Bobinha, qualquer forma de expurgar sentimentos vale nesse mundo onde ninguém tem a coragem de dar um sorriso na rua. Saía a rua e adentrava casas antes nunca imaginadas e se sentia estranhamente bem com aquilo. Misturava-se aos outros, confundia-se com as pessoas sem o medo são de perder suas verdades no meio de todas aquelas mentiras convincentes, mas de que importa? Cada um de nós é uma pequena parte de outro cada um e isso é o que chamamos de relações ou até mesmo amizade. O jeito era se jogar nessa nova realidade sem olhar para trás.

Ela olhava. Rezava incessantemente para que fizessem daquele mês de julho, dezembro. Chorava todas as vezes que pensava nisso. Se perguntava - perguntava a todos! - o que havia acontecido: nada lhe diziam. A vida muda muda e ninguém percebe, menina. Isso tudo aqui em que você vive é um diálogo incessante entre o destino, a vida e a morte e você não tem direito de ouví-lo. Você vai perder as pessoas daquele dia. Tudo aquilo que antes - ou que talvez ainda hoje - parecia importante para você se resumirá a um grão de areia. Você virará um composto de átomos mais sem importância do que já é hoje. Nada terá valor. Mas os instantes, ah os instantes, menina, esses permanecerão cravados nos miasmas da cidade. São eles que curarão sua tuberculose, quando esse pulmão estiver cansado de respirar toda essa melancolia.

Acredito que essa moça gostava disso. A tristeza que a consumia era o combustível para suas idas ao psicólogo e para os seus passeios sozinha. Embora o doutor nada a ajudasse, era um ouvido a mais - e quem sabe o único. Triste pensar que só quem te ouve é aquele que é pago para isso. Contudo, junto com as consultas vinham de brindes idas ao café ou à sorveteria - esse tempo é imprevisível - para falar de amor. Estava tentando parar de fumar, mas não resistia a uma cena bem montada. Gostava de andar cá por cima e sentar para escrever, enquanto aproveitava seu cigarro: era uma de suas terapias. Curtia até uma boa companhia, mas nenhuma daquelas vozes exageradas. Gostava da paz que o silêncio e o fumo a proporcionavam. Nada demais, só paranoia.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Diz que ainda vem pra mim

Vai logo, você ainda não foi. Há muito tempo eu pedi pra você vir e ficar comigo pra sempre, mas você disse que o único pra sempre que faria seria o oposto. Agora eu peço: vá logo. É melhor pra mim, que vou me ver livre de você; e melhor pra você, que não será mal transposta pelas minhas palavras. Você é sórdida. Você sabe que eu nunca te tiraria do pedestal que um dia te pus. Sua imagem ainda vem a minha mente a cada conversa com amigas, seus olhos parecem brilhar na minha frente a cada passeio pela cidade e sua voz ecoa em minha mente durante os mais brandos momentos etílicos.

Você nunca foi minha, eu sei disso. Mas eu não sei se você sabe que o mundo em que eu sempre vivi não é esse aqui e que no meu mundo, você era minha, sim, e era a mais feliz de todas as mulheres. A mulher dos mais belos e garços olhos. Embora lá eu tenha vivido alegre, essa felicidade ainda não chegou aqui - e é a esse mundo que você pertence. E eu te perdi, ah, eu te perdi exatamente naquele momento em que eu mais acreditei que você poderia ter sido minha, que você cederia e viria para o meu lado: cheguei atrasada demais. Você já era dele. De novo.

Assim, você se foi. Mas um maldito pedacinho seu ficou cravado em minha mente e meus olhos e às vezes por metástase ele se aloja no músculo cardíado. Só que, você sabe, eu mudo mais que a lua e já acredito que esse pedacinho ter ficado foi uma boa ideia. Eu não suportaria a ideia de você ir. De eu ficar sozinha. De eu não gostar de ninguém. De eu não sofrer por ninguém. Aquela velha frase "tudo passa" é caquética. Tudo passa e você vira o que, cinzas? Eu seria alérgica a você e, convenhamos: essa é a última coisa que eu quero. Minha felicidade depende dos outros, seja meu sentimento e relação pelos outros qual foi - amor, dor. A ideia de que você um dia veio, aqui permaneceu me marcando a ferro e fogo por meses e num belo momento nada mais será é absurda. Ninguém vira nada, por menor que seja. E olha que você é igual uma joaninha.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Senhoras da orla

Do alto Leblon
e das coberturas da Barra
as madames olham:
Mas que absurdo isso aqui na minha praia!

Isso aqui são elas
Independentes, trabalhadoras
Roupa curta salto alto
Mas.. quem é que não usa?

Ora, isso aqui é Rio!
Cidade Maravilhosa, Garota de Ipanema
Praia sol calor turismo
Liberdade..

Biquininhos em mulherões
Olhem-me, vejam-me!
Conheçam-me, toquem-me!
Comam.. mas peguem leve
Que aqui é quente o ano todo

Ei, madames da praia!
Vocês que gostam da vista da sua varanda
Cuidem dela
Que ela cuida do nosso astral
E a gente,
da sua economia

sábado, 28 de maio de 2011

Cicloiô

Fui dar uma volta. Voltei. Já fui. Vim. Fui. Fui. Fui. Dei adeus e me arrependi. Chorei. Voltei de novo. Em partes. Toda. Um pedacinho. Com medo. Comendo. Com fome. De você. E agora? Tô escondida. Prefiro assim: um eu tu nós sem vós e sem eles escondidinho do aconcheguinho do seu cobertorzinho sozinho no quartinho. Assim o nosso amor respeita o pronome possessivo e não se expande por aí.

Nunca gostei muito do mundo. Julgam demais. Falam demais. Comentam demais. Opinam demais. Julgo demais. Falo demais. Comento demais. Opino demais. E não entendem jamais, não devem gostar de ioiô. Não entendo jamais – como hei de entender alguém que chamo de eu? – mas sempre brinquei de ioiô. Eu era boa nisso, sabia? Gastava horas brincando. Conseguia fazer ele ficar lá embaixo rodando e vivendo por um tempão, mas vezenquando ele tinha que subir pra respirar um pouco e retomar a força para viver rodopiando lá embaixo. Cresci assim. Sou um pouquinho tonta por isso, admito, muito embora viva bem nos meus extremos.

Mentira. Viver sempre foi uma tarefa árdua pra mim. Nunca soube como lidar com essa coisa estranha de ser alguém. Quem inventou que devemos nascer, crescer, ter filhos e morrer? Que coisa estranha, meu, nunca quis crescer, quem dirá seguir esse paradigma. Resolvi achar um outro alguém que sofresse do mesmo problema. Das duas, uma: a ânsia se dividiria pela metade ou dobraria.

Dividiu. Primeiro um sorriso. Uma lágrima. Um sorvete. Um lanche no Mc Donalds. Depois foi uma calça deixada lá. Uma blusa aqui. Uma bermuda lá. Um sutiã aqui. Até que as almas foram cuidadosamente misturadas deixadas irmãmente na casa um do outro. Porque amar alguém é isso: começa dividindo, vai emprestando, até que te roubam de ti mesmo, te mudam e você nem reclama. Eu não reclamei. Você também não. Mas como tudo, tinha um porém: carreguei  para nossa mistura o ioiô. Você não se apegou muito a ele, mas eu me agarrei. Mais forte do que nunca.

Eu senti o puxão pra cima. Medo. Dúvida. Choro. Reflexões que nunca levaram a nada. Eu dizia vou embora. E você não, não vá. Mais choro. Muito mais. Cinco minutos longe. Um dia. Uma semana. Duas. Minhas roupas continuavam na sua casa. As suas, aqui. Seu cheiro também. A preguiça de buscar as minhas coisas tomava conta de mim e eu já pensava “por que não?”. Voltava. Você? Aceitava. Retornávamos já e voltávamos para baixo. Tudo novo. Você, o amor, o eu te amo se tornava uma frase novamente tensa de se dizer pelas primeiras vezes. Tempo. Tempo. Tempo. Crise. Tempinho. Preguiça. Volta. Nosso amor era um ciclo já certo e, embora esse movimento seja constante, nunca se sabe quando a linha vai enrolar e parar a brincadeira. Mas sempre agüentamos.

Ir e vir era minha brecha para te ver de longe e me encantar de novo.

sábado, 21 de maio de 2011

Diálogo de uma manhã de quase inverno

- Cara, você de gorro tá tão fofinha, que dá vontade de te pendurar na minha árvore de Natal!
- Mas pra quê?
- Porque eu poderia olhar para você o dia todo..
- E aí ficaríamos juntos pra sempre?
- Não, só em épocas sem Natal, porque no Natal você ficaria lá na sala, na árvore.
- Mas como eu vou comer?!
- Eu te dou comida, eu cuido de você.
- Aí vai sempre pra sempre?
- Pra sempre..

domingo, 1 de maio de 2011

E ainda tento ser

Eu sinto sua falta. Eu sempre senti sua falta em todo esse tempo que passamos separados, não vou mentir. A dor da falta é grande, mas é suportável. Essa saudade inundaria todos os habitantes dessa casa, caso alguém reparasse nela – ninguém repara. Quem somos nós para parar e reparar na dor e no sentimento dos outros? Não sabemos nem lidar com os nossos, como lidaríamos com os alheios? Mas reparamos na ausência. De humor, de felicidade, de simpatia. Na ausência do certo: reparamos nos erros. Porque nós não erramos! Então temos sempre que vigiar os outros para que sejam tão perfeitos como nós.

Eu precisava superar essa necessidade que tenho de você. Meu corpo sabe muito bem lidar com sua ausência, mas por vezes grita. Uma vozinha aguda e histérica que sempre insiste em me levar para o teu lado. Parece inundar minha boca também. Por vezes, sinto-me falando incessantemente “Luis, Luis, Luis”. Deve ser qualquer reação inconsciente para evocar-te divinamente, só pode. Não sou tão forte quanto me julgava ser. Corrigindo: somos mais forte do que imaginamos, mas não temos uma força de vontade equivalente. Cadê que quero cumprir minhas palavras e deixar-te ir, fazer-me ir? Também não quero ficar. Entenda: eu mudei e mudo a cada pensamento que possa passar por aqui. São tantas mudanças que permaneço igual. Alguém tem que vir aqui e cuidar de mim. Ainda sou uma menina.

Mas minha grande pouca idade já me dá uma certa noção de quem posso ser, de quem sou ou de alguém que imagino ser e nunca fui – a hipótese mais plausível. Afinal, sobrevivi a tantas coisas. Catapora, água da Lagoa, Lego com menos de 4 anos, carro sem cinto de segurança no banco de trás, atropelamento, pais . Só não sobrevivi a você. Ainda.

Aquele momento entre deitar e dormir se transformou no mais terrível de todos. Nele passam os acontecimentos dos dias e recapitulam-se sentimentos: erros e acertos. Imaginam-se histórias, diálogos, imaginação voa livremente como manifestação dos nossos desejos oprimidos e não realizados. Verdammt. Ela me faz sofrer. Abre a ferida num diâmetro tão largo que lá no fundo é possível ver você a acenar para mim – traga-me de volta para tua vida! exprimias tu. E minha mente enfiava a unha, o dedo e a mão inteira na ferida e alargava-a, ia até o fundo e rodava em busca de ti na forma de me doer mais ainda. E quando a dor tornava-se insuportável e as lágrimas já não podiam mais ser contidas, eu adormecia. Adormecer faz com que a imaginação que dói imediatamente pare de funcionar e só a que dói pós-imaginado atue em forma de sonho.

Não sonhei essa noite. As 9h horas interrompidas de sono e calor foram o suficiente para deixar o sangue que jorrou ontem à noite estancado e a ferida aparentemente rosada. À tarde, isso evoluiria para uma casquinha. Com sorte, amanhã seria uma cicatriz. Minha sorte depende de mim. Se eu permitisse que amanhã ela amanhecesse novamente rosada por causa novamente da minha mente, eu seria fraca. Mas quem tem que ser forte o tempo todo? Somos humanos – esse é o maior problema do mundo. Se ela acordasse no dia seguinte uma cicatriz, eu iria continuar reclamando, afinal, quem quer uma cicatriz tão visível desse jeito?

Por muito tempo, aconteceu a primeira opção: joguei contra minha própria sorte. Dizem que entre nossa felicidade e o estado em que nos encontramos há nós mesmos a atrapalhar os planos de um ser feliz em potencial. Sempre tive dom pra ser mártir. Preferia o monocromático ao colorido, o dia à noite, as músicas down ao rockinho alegre. Minha mente inconsciente e conscientemente sempre me guiou pra onde podia haver mais drama. A tristeza e sua beleza sempre foram muito atraentes.

Mas num dado momento eu parei. Uma rotina, até a que agrada, é sempre algo cansativo. Resolvi revolucionar. Abri os olhos. Levantei da cama. Abri a janela e contemplei o sol, que dia lindo! Sentei na varanda e li um livro. Nem tomei café da manhã. Vi um filme. Chorei o amor no final correspondido e acontecido da menina. E melhorei. Fiz exatamente tudo aquilo que os livros e os amigos nos mandam fazer nessas horas, tudo aquilo que sempre mandei os outros fazerem, e acreditem: funciona. Botei um vestido e um chapéu. Saí de chinelo. A pele mostrava-se mais rosada enquanto a ferida era uma quase insignificante cicatriz esbranquiçada na minha pele que exclamava: eu venci! – assim como todas as cicatrizes exclamam. Pensei que dessa vez eu seria feliz. E fui. 

sábado, 23 de abril de 2011

Amor: sonho

E os amores brandos, que sejam assim brandos, como tardes suaves e com brisas de domingos, aquelas que não temos nada para fazer que não seja dormir: ser brando. Mas o nosso amor não era mais isso, já era uma tempestade de lágrimas e amores e sentimentos, parecido com aqueles sábados turbulentos de aula, passeio e festa. Os olhos que lacrimejam em frente aos ouvidos que escutam imploram por uma salvação absoluta da confusão que chamamos de sentimento. A minha mente é apelidada de dúvida e quando vem traz a irmã gêmea e me leva em direção a ele ao mesmo tempo em que a outra me empurra para o outro lado. E o questionamento toma conta de todas minhas cordas vocais - por que eu fiz isso? Oras, porque fazemos coisas idiotas, sempre. E quanto mais humanos formos, mais isso faremos. Cansei de pertencer a essa minha espécie que talvez pior que o próprio humano seja. Meu humor vai do extremo da felicidade à sofreguidão extenuante em segundos. Como tentar ter controle de algo, se são forças cerebrais sobre - e não sob - meu controle que me controlam? E elas são forças chamadas sonho, sonho chamado imaginação, imaginação chamado irrealidade, irrealidade chamado lugar-onde-nunca-viverei, lugar-onde-nunca-viverei chamado impossível, e não, isso não é questão de ponto de vista. É questão de consciência.

-Você é tão nova e tão bonita, por que bebe tanto?
-Porque quando eu tô bêbada, eu não sonho.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Revolta do não-pensar

Um mundo que castra,
que trava, que manda.
Fui fazer medicina,
papai quem mandou.
Mas esse não é o problema,
nem da vida, nem da morte.
O problema é meu cérebro,
já dizia a titia.
Tenho 25 anos,
não de sonho, nem de sangue,
mas de alguém que nunca fui.
A vida que sigo, babá que ditou,
cuidava de mim, olhava pra mim, me fazia comer,
a televisão.
Papai trabalhava, mamãe trabalhava, mamãe reclamava,
na dupla jornada de quem pari,
e eu, pobre menino de interior de metrópole,
largado às vistas da raça superior.
Virei uma máquina contraditória na vida,
uma fordista de última tecnologia,
sou filho dos donos do mundo!

Sou toda a população.

Mas taco isso num barco,
não sou metonímia, sou metomim,
meto o dedo, meto o olho.
Olho de longe tudo,
cadê papai, cadê mamãe?
O dinheiro 'cabou,
vendi a tevê,
e agora o que vou fazer?
Paro e penso,
penso e paro.
Viro bcho, viro bicha,
viro quem eu sempre fui.
Não sou doutor, não sou ninguém,
 sou biólogo, sou poeta,
pro desgosto do papai.
Não sei do amor, nem da ciência,
não tenho nada a falar,
mamãe, não se vá.

E pra quem disso gostar,
não sou sábio, nem sou mestre,
mas um conselho vai bem a calhar.
Meu amigo, pense bem,
a solidão é minha amiga,
e disso você não vai gostar.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Intertextualidade reflexiva

Aqui onde vivemos, hoje é quarta-feira. Mas exatamente onde vivemos já é quase quinta-feira. Será? A turvalidade mental provocada por conceitos e veículos massantes e sem rodas ou asas nos faz acreditar no que ela quer. deveria haver salvação de algum alienado da alienação. Poetas, pois. Poesias, poemas, parágrafos, pensamentos para pensar, pleonasmos pedantes. Mas toda a literatura é um mar de intertextualidade. Mas quem é a literatura? Nós. Os personagens são livres e invisíveis pessoas que andam por aí juntando características de vários de nós, até que, epa, encontra um sensível para contar sua história. Assim é o amor, assim é a vida. Assim é a parte subjetiva e objetiva de cada um de nós - desde que consideremos objetivo como matéria. Nosso carbono é de Cleópatra e nossas ideias ainda são de Jesus, o rebelde - Jesus histórico, ateus; Jesus religioso, cristãos. Relatividade é tudo no mundo de agora. Somos bombardeados a todo momento com inúmeras opiniões, fatos e veredictos, o sim e o não, o pró e o contra. Sem contar todos os livros que já lemos, peças que assistimos, trechos que já ouvimos. E, se tudo isso foi escrito por alguém, carrega uma opinião e uma vida, ou seja, lemos textos altamente partidários para formar nossa mente e nosso ser. E toda essa volta e embasamento sei lá de que para simplesmente dizer: tudo que nós somos, já foi; tudo que escrevemos, já foi escrito; tudo que falamos, já foi dito. Teimamos em dizer que somos revolucionários, mas revolucionários de quê? Nada aqui é novo, o que sabemos de amor e de sociedade foi alguém que nos disse e nós nos identificamos. Então, quem somos, se tudo que pensamos ser nosso, na verdade, é de tantos numa linha até o infinito? Temos espelhos internos, somos espelhos de todas essas ideias e temos tantos ângulos de envergadura, tantos tamanhos e côncavos e convexos diferentes, que não há imagens iguais. Somos produtos do nosso reflexo. Somos imagens, meras imagens, somente imagens intertextuais. E, mesmo assim, somos encantadores.

sábado, 12 de março de 2011

Do eu sozinho

O tempo passa, as crianças crescem e quando elas não querem mais crescer - não, mãe, eu não quero crescer -, o vem o mundo e as perguntas e as questões e a pressão e a vida não é uma questão de múltipla escolha. E junto vem o cansaço, o meu cansaço, não me canso da rotina, dos livros, dos cadernos, me canso de vocês. Mundo, eu aborto essa missão. Como eu posso pensar em alguma profissão, como eu posso pensar em rios de dinheiro, quando o amor é estuprado e jogado nas lixeiras juntamente com nossas crianças? Mandam-me ser sensata e pensar em mim e na minha vivência daqui pra frente e eu digo: pra que tudo isso? Não há faculdade para o que eu quero, mas há leis sobre o que eu admiro. Quem aqui já se apaixonou de verdade? Não acredito nesses nãos gerais, mas isso é arte. Arte de histórias, arte de música, arte de poemas, arte é sentimento, do mais ínfimo - que não existe - ao mais escandaloso - o mais puro exagero camoniano. É isso que eu quero! Mas da dança não mais usufruo, me restam as letras que ainda acho que sei escrever. Art is the best way to say fuck you to reality. E aí eu digo: como estudar a única coisa relacionada a saber escrever se ela me obrigará a ser mais conectada no mundo ainda? Eu assim nada seria, assim como ainda nada sou enquanto cumpro esse meu último ano de obrigação e rotina. O medo existe, mas o alívio sobressai. Há um momento em que toda a magia se esgota e se isso acontece é porque não há mais tanto amor. Vem e me diz o que aconteceu, aqui nada mais é o mesmo e a renovação é (im)precisa. Enquanto quero distância do mundo, quero um novo contato com uma nova parte sua a cada momento. E ainda que eu falasse a língua dos homens, ninguém me entenderia. Só João me entenderia. Só Renato me entenderia. Talvez Luís também.

E quem disse que se reinventar todos os dias para formar pessoas não é uma arte?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Fim das férias

Os sentidos das palavras e do corpo mudam com o passar do verão - que tem ficado com preguiça de ir embora. Olho as horas e os segundos parecem não passar numa eternidade de palavras e o calor cada vez mais forte começa a ser substituído por amanheceres nublados de gaivotas e nuvens na reserva aqui perto. Descubro assim como quem discute, reflete e rebate sobre a o porquê e a origem da vida que meu cheiro preferido não existe - terra molhada e átomos quebrando não seriam tão obviamente iguais se o mundo fosse meu.

Cadê você nessas horas?

As férias de conhecimento, letras e curiosidades acabaram e o começo de uma frustração em forma de tempo tem me deixado abatida, juntamente com as pessoas. O ser humano é feio, pelo menos é mais feio do que a concepção que eu faço sobre cada um deles. E com o fim da encenação veranesca as pessoas tem ressurgido - e eu prefiro os personagens.

Não consigo ver você. És bonito ou ainda me decepcionará, como sempre fazem?

Sei que nessa visão me machuco com as pessoas sempre mais, mas vejo na maior parte do tempo a beleza de um dia, se não apaixonado, amoroso. E a ideologia é o óculo por onde vemos a vida: não adianta discutir, cada um tem a sua. Todos tem a sua, não há quem não veja o mundo de alguma forma, não há ser humano a-idealista. Mas ninguém é tão cego e rígido que não possa se movimentar ou pelo menos dilatar. Toda matéria concreta é um monte de vazio reunido. Ninguém tem resposta ou opinião para todos os casos e perguntas.

Venha logo. Essas pessoas me enojam e enjoam.

Sempre atitudes e atividades egoístas e egocêntricas de quem já passou do estágio de só olhar pro próprio umbigo e chega a ser má, enquanto apenas me pergunto o porquê disso. Mas o bem e o mal não existem e estão dentro de nós mesmos. A maldade se mistura na população para ficar escondida e poder agir. E eu vou me afastando. Sem pessoas, sem ninguém. A minha exclusão voluntária é resultado do grau absurdo das pessoas, enquanto elas pensam que a causa é a minha introspectividade: o fato em si não existe, existe a construção do fato. Mas o afastamento me permite limpar os óculos e enxergar tudo com mais clareza.

Vejo algo. Alguém.

E o ressoar do seus passos vão fazendo todos aqueles terremotos aéreos e vão balançando os meus dois tímpanos tão rápidos quanto as batidas do meu coração em desespero para ver você. O susto desse momento vale mais do que qualquer conselho ou descrição que poderiam me dar e eu não sei o que fazer com minhas pernas bambas. Observo e é alto. É branco. Não tem máscara, não tem fantasia, não tem nenhum teatro que não seja da vida - o inevitável. Não tem a beleza do comum, mas a beleza do perfume de si chegando vagarosamente às minhas narinas. Não tem mais chance. Não tem como fugir. Não tem distância.

Chegou.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Carta pra você: vem

Venho por meio dessa, daquela e de mais uma outra pedir por um par de olhos pequeninos que já quase não se vê, mas que quero ter. Procuro por todos os cantos palavras daquelas das aulas de alemão e, que surpresa, não as acho: só em inglês. Sei que deixei ir bem antes do avião passear e do reveillon passar, mas quem nunca se perdeu tentando se achar e deixou um passarinho voar? O problema é quando o passarinho foge e não sabe se volta, se se acha, se se perde, se esquece o passaporte ou se pula de bungee jump porque acha que desaprendeu a voar - tudo que mais faz. Mas então acaba sempre voltando com olhinhos baixos e pedido de abraços - com braço, sem braço, seja lá como for - pra ser o centro das atenções com seus tenis e casacos de bolinhas, de listrinhas, de passarinhos. Acaba sempre no mesmo pôr do sol e na mesma poça d'água gigante que tem no quintal, pensando sempre nas mesmas tatuagens e palavras em alemão, andando sempre no mesmo skate da mesma kombi. Só que não adianta pedir adiantado, pedir como brinde, pedir como lembrança ou até mesmo como presente embrulhado num laço e mandado por sedex 10: é cheio de vontades e só vem quando quer.

Volta, meu bem, volta. Vem voando mais rapido que o avião, mais veloz que a burocracia. Volta que do lado de cá desse mundo tem muita praia pra você também, mas com menos tubarão. Volta que aqui tem um monte de gente de cabelo curtinho esperando por quem tem também. Volta porque aqui tem muita salada e dias perfeitos pra você. Volta pro seu carnaval, passarinho, abra suas asas aqui. Vem.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Você: de novo

E no meio de tanto caos dessa cidade, eu continuo em conflito comigo mesma. Tenho em mim um sentimento de paz que me diz a coisa exata que eu quero quando viro a cabeça pra direita; mas basta virar a cabeça para esquerda e trocar meia dúzia de palavras para essa certeza sumir. Lembro de desenhos animados de infância e me pergunto se com essa idade que tenho ainda posso ser uma princesa de contos de fadas que não decidiu se é a mocinha ou a vilã.
Queria ser as duas, desde que eu fosse a protagonista. A vida podia acontecer exatamente como num filme onde cada movimento é cronometrado pra que aconteça uma coisa boa na vida da personagem. Isso incluiria você. Você que faz a minha cabeça rodar e viajar e não ter a decência de decidir que lado quer. Você que me faz ficar como uma pré adolescente apaixonadinha e nervosa com o que vou dizer e com o que você disse, mesmo que não suas palavras nao sejam nada demais, mesmo que você não aja de acordo com isso que acabou de dizer. Na minha mente você é assim e isso pra mim basta. A minha mente é o meu filme. Eu só não consigo ser duas diferentes.

Por que nada nos satisfaz? As cortinas do meu quarto continuam fechadas para que a claridade não possa entrar e eu não veja que vida explêndida há lá fora. Você está lá fora. É para que eu não veja você, para que eu não corra até você. Falando assim, vão pensar que perco-me de amores por você. Tolo engano. Perco-me de amores pela liberdade que transmites a mim, pelas palavras e brincadeiras que dizes e falas, pela ideia de, contigo, não fazer o de sempre.

Eu amo o de sempre. Mas você sempre volta. O som solto de suas palavras abraça meus ouvidos e olhos e eu não consigo desviar o pensamento desses óculos pelos quais enxergas a liberdade mais que eu. Você me seduz com isso. Você tratou minha dor com isso. E me acariciou, alentou, você quase me roubou e me tirou dessa cidade, você conquistou minha admiração e desejo, sem saber que estava fazendo isso. Hoje, tenho certeza que sabes.

Com você, sou a vilã num mundo de festa, carnaval e sol. Sou vilã no Rio de Janeiro de verdade. Com o de sempre, sou a mocinha que quer construir uma vida, morar no inverno e que ama o que tem, embora, no fundo, sempre tenha querido ser a vilã. Aqui e agora, ouço as duas ou mais vozes que tem em minha cabeça e tento decidir qual é a mais correta. Hoje mesmo sentei no sofá e contei tudo isso em 20 minutos no telefone. Hoje, eu fiquei mais aliviada, mas não mais decidida.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Quem fala é o doutor

Passei um tempo longe do papel. Caí no mundo e em muitas armadilhas, me perdi inconscientemente pra mais inconscientemente ainda me achar. Eu mandava as pessoas não aloprarem tanto, mas vivia cada dia com um alucinógeno diferente. Fui pra cá pertinho achando que tinha atravessado e só por isso que tinha em mim novos ideais, ideias. Me dá um tapa na cara. A volta para o lugar onde se estava é aconchegante. Eu me via entre duas realidades diferentes, mas que todas tinham eu como ponto em comum. Pra que mudança? Eu temia que todos os neologimos já tivessem sido usados, todas as onomatopeias gritadas, todas as ideias expostas. Eu podia jurar que tudo que eu dizia e pensava já existia, cada letrinha. Meu Deus, eu já fui inventada. Achava que o sentimento da vida estava perdido sem poder escrever minhas palavras. Mas a pretensão de ter uma porção de letras juntas e só minhas já foi longe: se as palavras não forem minhas, que se tornem minhas me satisfazendo.

Eu achava que não havia sentimentos sem palavras. Mas há vida longe delas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

E como curar a liberdade?

E quando eu pude, enfim, ter o mundo todo para mim, você olhou e eu estava com a cara triste, e então você perguntou com aquela sua cara de assustado e esgotado, como se eu tivesse sugado todas as suas forças e, por mim, você não pudesse fazer mais nada: você ainda quer alguma coisa?! Sim, você.

Hoje eu acordei meio revoltada por ter acordado. O telefone tocou 7 vezes, faltou luz e eu acordei no calor. O caminhar no silêncio até a cozinha me deu uma paz ao constatar que não tinha ninguém em casa e o ainda gelado vento da geladeira em minha direção me animou um pouquinho. O relógio me contava que já eram 14h. Mas o céu completamente limpo foi me deixando triste por não ter um segundo de sossego do sol, o ar quente me deixou triste por não dar nem um soprinho refrescante nas minhas costas ainda nuas de uma madrugada de calor, eu me deixei triste por ter ido embora de você e agora não ter colo, mesmo estando calor e eu detestando andar de mãos dadas nessa temperatura.

Quis beber alguma coisa. Não tinha cerveja, vai água mesmo. Deu vontade de falar mil palavrões a mais do que eu já falo por dia, de ler poesia, de declarar alguém para ninguém. Nunca liguei muito pra rimas e métricas, mas quando comecei a escrever sempre rabiscava uns versinhos de amor e saudade, aqueles sentimentos do dia a dia que por algum motivo gostamos de ostentar. Deu uma vontade também de ouvir um rock'n roll sujo, aquele bem de verdade. Alguma lésbica cantarolando o amor na MPB também era uma boa, porque elas sempre o cantam melhor que os homens e as mulheres, elas sim devem saber o que é amor de verdade.

E nesses versos, nessas melodias e nesses líquidos hidratantes, eu ia me fazendo da minha ressaca. A minha ressaca de mundo. Você bem que me avisou: liberdade em excesso faz mal. Dito e feito. Agora eu quero um colo e meu universo e palhetas de cores se transformaram novamente na sua camisa quadriculada. Isso tudo para que eu me sentisse romântica, uma menininha boba e quisesse voltar pra você. Para que eu escrevesse um pouco além de versinhos idiotas de início de escrita, mas que ainda ostentam os mesmos sentimentos tão corriqueiros e tão esbeltos. Para que eu fizesse parte de tudo isso de novo. E o meu tudo isso inclui eu e você.